(Jo 6,1-15)
O relato da multiplicação dos pães é uma releitura do Primeiro Testamento, do segundo livro dos Reis (2Rs 4,42-44). Esse relato do compartilhamento dos pães com os próximos foi uma literatura comum das primeiras comunidades cristãs como forma de recordar e resgatar o modo de vida sociocultural dos antepassados. Ao fazer essa releitura, o autor sacro quer dizer para os seus leitores que Jesus de Nazaré é o novo-Eliseu.
Ou seja, o profeta Eliseu foi o modelo básico (protótipo) do líder Jesus no tempo de renovação; assim, o ato de Jesus revela a continuidade da ação de caridade para resolver a necessidade imediata (dar de comer aos famintos). É bom lembrar que, conforme a tradição judaica, todo o líder de Israel tem sua responsabilidade de dar a atenção especial para com os necessitados: os órfãos e viúvas, os famintos e sedentos, os abandonados e estrangeiros. Esse ato é visto como a prática de justiça. Tanto é importante essa tradição que faz com que todos os quatros evangelistas relataram essa prática (Mc 6,32-44; Mt 14,13-21; Lc 9,10-17).
Esse relato de milagre da multiplicação dos pães pode ser comparado com o milagre de alimentação na Primeira Aliança de modo especial o milagre de maná no deserto quando o povo passava fome (cf. Nm 11,22; Ex 16,16ss). Os pães de Jesus são os pães escatológicos que servem, não só para cinco mil pessoas, mas para toda a humanidade. A prática de compartilhamento dos alimentos é, portanto, a vivência da justiça como garantia da paz e harmonia no mundo. O número 12 é símbolo, primeiramente, das doze tribos de Israel e, segundo representa a totalidade da humanidade, símbolo da perfeição, da plenitude. Assim, toda a humanidade é chamada à responsabilidade, à partilha de bens da vida.
Seguir Jesus não é o mérito, mas uma responsabilidade: ser, viver e agir como Cris foi, viveu e fez. Os bens do mundo são dádiva de Deus para toda a humanidade, portanto deve ser compartilhada para com todos e não para ser acumulado pelos poucos. A fome do mundo é denúncia do egoísmo, da ganância, do espírito consumista desenfreado.
Como está sendo a vida cristã? E os líderes cristãos, estão seguindo o ensinamento de Jesus na prática de compartilhar os bens? Dizemos que falta alimentos no mundo; o que falta é a partilha. Esse é o desafio para toda a humanidade em geral e os cristãos em especial.
A caridade cristã não só para resolver a necessidade imediata (assistencial e promocional), mas também do longo prazo, a caridade libertadora, isto é, fazer o próximo o protagonista de sua salvação, uma caridade que desenvolve a capacidade do próximo como sujeito ativo que produz a vida, o digno cooperador de Deus na contínua construção do mundo, transformando-o um pedaço do céu para todos onde reina a paz duradoura, a alegria no Espírito Santo e a justiça verdadeira para com todos. A caridade assistencial e promocional só criar o sujeito passivo, improdutivo, cria a mentalidade viciosa e mendicante.
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Lukas Betekeneng
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