sábado, 10 de setembro de 2011

O CRISTIANISMO: UM POVO CHAMADO AO PERDÃO E À RECONCILIAÇÃO COM TUDO E COM TODOS

(Gn 4,23-24; Eclo 27,33 – 28,9; Rm 14,7-9; Mt 18,21-35)
O
 ser humano é um ser “esquecente” e egoísta, apesar de a humanidade como um todo é como teia de aranha, interliga de todas as formas umas para com as outras, com o cosmos e com Deus. Esquece da graça recebida, constantemente, da parte de Deus, e egoísta por não querer, muitas vezes, retribuir ou, ser incapaz de compartilhar o Dom recebido para com o próximo, quem quer que seja. O Deu-Amor é a fonte derradeira de sua fé crística. Mas para que o Deus é reconhecido pelos povos, o ser humano em geral e cristianismo em particular é chamado a ser portador do amor ilimitado de Deus para com o mundo, de modo especial para com seus semelhantes. Desta forma, os cristãos revelam, de modo inconfundível, o luminoso rosto compassivo e misericordioso de seu Deus como AMOR além fronteiras (cf. 1Jo 4,8).
1º. A comunidade cristã mateana do Evangelho fala, primeiramente, do perdão ilimitado (vv. 21-22) como característica de sua mentalidade (modo de ser, viver e agir) como homem novo em Jesus Cristo. O autor relata, em seguida, uma parábola como forma de explicar sua intenção, remetendo o Deus no seu conto, porém fica escondido atrás da figura de um rei, que é, ao mesmo tempo, piedoso e severo, compreensivo e exigente, reconciliador e vingativo. É uma imagem de Deus cujo rosto, de um lado luminoso e, de outro, sombrio. É um discurso, tipicamente, institucional e eclesial. É uma imagem de Deus muito comprometedor uma vez que se trata de um Deus-Amor-incondicional. Mas é compreensível, pois talvez naquele momento, a forma negativa de falar do agir de Deus foi uma metodologia institucional adotada para reeducar a vida de fé da comunidade recém-nascida. E mais, é compreensível, pois é uma linguagem simbólica e comparativa, um modo de falar do limite, um “saber do não saber”, uma “inteligência do umbral”, enquanto que a realidade Deus está para além de nossa linguagem, de nossa experiência, de nossos conceitos, pessoais e institucionais. O problema aqui consiste na compreensão literal dessa linguagem comparativa, manipulando Deus para justificar os próprios atos impiedosos e desumanos em nome da instituição: “Eis como meu Pai celeste agirá conosco” (v.35).
2º. Os números, “sete” e “setenta”, usado pelo autor da comunidade mateana não são novos nem exageros por parte do autor. Tanto é que a comunidade de lucana do Evangelho trata do mesmo assunto (Lc 17,4). É ma releitura feita pela comunidade, de maneira mais positiva, do agir negativo dos seus antepassados, contido no livro do Gênese (cf. Gn 4,23-24), para dizer que os cristãos devem viver e agir de modo compassivo e misericordiosamente, tanto para com eles mesmos quanto para com os demais, pois seu Deus é Amor compassivo e misericordioso, portanto, os cristãos devem imitar o ser de Deus, testemunhado por Jesus de Nazaré (cf. Lc 6,36). Eis uma das marcas da novidade de vida cristã, superando dessa forma o modo de ser, viver e relacionar dos antepassados. O número sete e/ou setenta tem o mesmo sentido de “ilimitação” do agir cristão de amar, perdoar e reconciliar. Por isso os cristãos rezam constantemente a oração do Pai nosso pedindo o pão e o perdão: “O pão nosso de cada dia nos daí hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.
A ideia do autor quando fala das ações do rei (do perdoar e reconciliar) na parábola indicam que ele deve ser identificado com Deus. Contudo, a fúria, a insatisfação e condenação por parte do rei não são nem podem ser projetadas à ação de Deus. A condenação do ser impiedoso não pode ser entendida como a causa da vingança de Deus do Jesus Cristo, mas muito mais como conseqüência da perda do Dom da Graça (do amor-perdão-e- reconciliação), fruto do fechamento próprio interior para não ter abertura e disposição para com o próximo. Pois Deus jamais revogar sua graça concedida ao ser humano, muito pelo contrário, é o próprio ser humano que não sabe usar, de modo correto, o Dom da liberdade e do amor. Assim, o verdadeiro significado que está por trás da advertência do autor (v.35).
O amor compartilhado no perdoar e reconciliar é um ato generoso do coração humano compassivo e misericordioso, é uma ação de todos onde a comunidade-Igreja é constituída como lugar do perdão e da reconciliação, o lugar de festa, a escola do amor afetivo e efetivo.
Não tenha medo de se apaixonar e amar nem vergonha de reconhecer suas limitações e pedir e dar o perdão. Vivo por amor e amo para viver, perdoando como um ato remediador da alma, uma ação generosa e complacente do ser religioso crístico no caminho do discipulado do Nazareno. Assim é a vida dos cristãos, pois ninguém nasce de si, vive para si e/ou morre para si mesmo (Rm 14,7).
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BH. 10/09-2011
Lukas Betekeneng

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