(Jo 20, 19-31)
Ouvimos em muitas homilias nas igrejas um tipo de ideias desatualizadas e interesseiras em relação a este texto. Dizem que Tomé (o Dídimo) é o símbolo do descrédito, ou o modelo de uma fé do tipo pragmático, instrumental, experimental. O autor revela que a fé que nasce e cresce a partir do ver e do ouvir tem, em fim, o mesmo valor e credibilidade. A fé que não tem raiz na realidade experiencial ou ela será “light” ou será fechada (ou intransigente). Assim, como Lucas, João também assinala o mesmo elemento do sentido humano do ver e ouvir como caminho místico e espiritual para o coração. A atitude de Tomé não representa, antes de tudo, a incredulidade. Pelo contrário, é de aviso profético para o cuidado da manipulação da realidade, cuidado do falso anúncio, da idealização e/ou politização dos fatos. O apóstolo Paulo de Tarso chegou a alertar o povo de Gálatas de tomar muito cuidado a esse respeito (cf. Gl 1, 6-10).
A estrutura desse pequeno texto é tripartida: 1) a iniciativa de Jesus, isto quer dizer que, a aparição de Jesus não é o resultado do desejo ou fruto da busca dos discípulos; 2) o reconhecimento dos discípulos; 3) e, por fim, a inauguração do tempo da missão, ou tempo da Igreja enquanto povo convocado de Deus (tarefa de todos os batizados, homem e mulher). No discurso sobre o itinerário da fé, se percebe dois centros: a) a nova condição da realidade material de Jesus (o cristo da fé); b) a atitude dos discípulos (vv. 19-20).
A intenção do relato sobre a aparição de Jesus após a paixão e morte humilhante na cruz: a morte revela a impotência e inutilidade, o descrédito e a esterilidade do poder e autoridade religiosa e política. Além disso, a aparição é uma forma simbólica de declarar que a morte de Jesus não foi uma vitória do mal, muito pelo contrário, foi uma prova autêntica da vitória do Bem sobre o mal, a maior prova do amor diante do ódio (cf. Jo 15,13). O bem é como uma árvore que, quanto mais você pode mais ela se multiplica, se renova, se regenera. O relato sobre ressurreição e aparição é também para dizer, de modo profeticamente, de que tudo o que o homem discrimina, desvaloriza e joga para o chão, Deus resgata, valoriza e eleva para o alto céu. Essa é a consciência da fé mais elevada, a intuição profundamente mística e religiosa em relação a atitude do Deus-amor para com a obra de sua criação. É essa consciência que reacende a chama da esperança e confiança para a perseverança na luta pelo bem maior. Foi dessa convicção que faz com que Jesus tem declarado de forma parabolicamente quando diz: “Se o grão de trigo que cai no chão e não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muitos frutos” (Jo 12,24). A morte de Jesus provocará a indignação na consciência de todos os homens e mulheres do bem. Foi essa convicção de fé que transforma o medo aprisionador em força e coragem renovadora de continuar lutando pela paz, justiça, liberdade e solidariedade, transformar a tristeza e desespero em alegria de perseverar sem medo rumo a Deus da vida e amor.
A missão dos discípulos, a partir de agora, é de anunciar a vitória do Bem sobre o mal, não através da força vingativa de pagar o mal com o mal, mas testemunha o bem espalhando a paz verdadeira, o perdão e reconciliação para transformar o mundo o verdadeiro lar de convivência solidária como irmãos e irmãs do mesmo pai que está no céu. A missão dos discípulos é de revelar o rosto compassivo, amoroso e misericordioso de Deus anunciado e testemunhado por Jesus de Nazaré através de suas palavras e seus afazeres. De fazer o “desejo” de Jesus da fraternidade global seu programa de vida e ação testemunhal, até os confins da terra, “quando Deus se torna tudo em todos” (1Cr 15,28).
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Lukas Betekeneng