sábado, 7 de abril de 2012

Ressuscitou, não está aqui: o ponto alto da fé cristã

(Gn 1,1 – 2,2; Gn 22, 1-2.9a. 10-13. 15-18; Ex 14,15 – 15,1; Rm 6, 3-11; Mc 16,1-7)

O que significa a ressurreição de Jesus para a história e qual a mensagem para a nossa vida cristã hoje? Para responder essa pergunta, precisamos fazer outra pergunta: quais os sinais da morte (morte potente e morte potencial) que temos vividos, consciente e/ou inconscientemente, no dia a dia de nossas vidas?
Historicamente, a páscoa lembra a saída do povo hebreu do Egito, isto é, a libertação dos judeus das mãos dos faraós e sua passagem pelo deserto, conduzidos pelo Moisés e Aarão, rumo a terra de Canaan. A páscoa dos cristãos associa, portanto, a esse fato histórico, dando-lhe, contudo, um novo sentido – teológico: a libertação do pecado por Jesus Cristo e a passagem (a ressurreição) da morte para a vida. Assim, a fé cristã se constitui nesse tripé: a paixão, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré, o Cristo irmão misericordioso.
A Igreja do Brasil lançou um programa de reflexão pascal, neste ano de 2012, ligado à saúde pública. É muito oportuno fazer nossa reflexão ligando a ressurreição de Jesus com o tema da qualidade do serviço de saúde para todos. Como toda a nossa ação é a impressão do nosso ser interior, assim também, a nossa realidade de saúde física está ligada intimamente com a qualidade da nossa saúde mental, moral social e espiritual (cf. Mt 7,17-20; Lc 6,43-45). O nosso mundo continua pior porque nós, o ser humano-imagem e semelhança de Deus, não conseguimos nos tornar, até hoje, como humano saudável. A nossa animalidade parece que nos domina muito mais do que a consciência de nossa humanidade. O mundo parece como um mega zoológico do que o “jardim de Éden”. O ser humano além de destruir a natureza, também se destrói e destruir o próximo. O vilão do sofrimento na humanidade não vem, nem da natureza e muito menos de Deus, é do próprio ser humano. Toda a prática desumana do ser humano é um ato de negação de sua própria qualidade essencial criado por Deus desde o princípio.
Percebe-se que no relato da criação (Gn 1,1 – 2,2), o autor sacro usa quatro vezes o termo “Bom” para a criação das coisas o termo “muito bom” quando Deus cria o ser humano. O autor também fala que Abraão tem superado a tradição primitiva de sacrificar o homem em nome de Deus e de deuses (cf. Gn 22, 1-2.9a. 10-13. 15-18). No livro do Êxodo (cf. Ex 14,15 – 15,1), o autor fala que Deus questionou o pedido (a prece) de Moisés e exigiu-o a agir – em nome d’Ele, para salvar o povo de Israel. Enquanto que para o Apóstolo Paulo, os cristãos são todos batizados na morte e ressurreição de Jesus Cristo, isto é, pelo Batismo nos tornamos o “outro Cristo”. Ou seja, devemos ser, viver e agir como Cristo.
Nós, os cristãos, como seguidor de Jesus Cristo, estamos seguindo-o de perto com corpo e alma ou só da boca para fora? Pela realidade que estamos vivendo podemos dizer estamos seguindo Jesus ainda só com a boca enquanto que o nosso coração está bem longe dele. Deveríamos fundar a saúde, primeiramente não no chão do mundo, mas no coração da vida do próprio ser humano. Somente assim que o mundo se torna saudável.
Qual, então, a mensagem da Páscoa para a nossa vida hoje? A ressurreição de Jesus não significa, primeiramente, o triunfo do corpo morto saindo do túmulo e voando para o céu. A mensagem da cultura bíblica do povo oriental e, especialmente, judaica é para dizer que o Bem permanece como foi e, assim, será sempre. O mal não desaparece no mundo, mas também é incapaz de vencer o bem. A Páscoa hoje nos convida a salubrificar o nosso comportamento doentio, sanar a nossa insanidade mental e moral social e espiritual. A morte de Jesus nos chama a superar as forças do mal em nós: todos os sinais da morte potente e morte potencial como, discriminação, a violência simbólica e física contra mulher, a injustiça social, a negação do direito, a privação da liberdade, a promoção das guerras camuflada com bandeira da paz mundial e do direito humano, todos os tipos de intrigas e as formas de violência contra a vida, própria e a dos demais. Somente assim, o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição pode significar para nós cristãos: sair do “mundo mortal” e passar para a vida em plenitude. A ressurreição de Jesus é também nossa, e que deve acontecer todo o dia.
Que a luz do Ressuscitado nos torna cada vez mais cristão, mais humano, mais solidário e mais salvífico.
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Lukas Betekeneng

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