(Mt 28,16-20)
Jesus de Nazaré não foi nem era cristão! Ele foi batizado com o batismo de João no rio Jordão, isso significa que, ele aderiu-se, até em certo ponto, ao movimento do Batista, mas não prosseguiu o modo de ser, viver e agir do Batista. Tanto é verdade que ele não repetiu (a forma) do batismo de João - de molhar a cabeça (até os pés?), mas modificou-a e criou sua própria forma diferente de batizar – de lavar apenas os pés[1] dos seus discípulos (cf. Jo 13,1-16) e pediu para que eles façam o mesmo uns para com os outros. Jesus também não tinha intenção de mudar o fundamento espiritual e religioso do seu povo. Ele queria, todavia, a renovação da convicção espiritual e religiosa, tanto quanto, sociopolítica e cultural, ele queria a transformação da mentalidade, ele queria, sobretudo, voltar à origem para reembeber na fonte salutar a água pura da vida (cf. 18,3; Jo 3,3).
Jesus já morreu, sua presença física já não existe mais (simbolizado pela imagem cultural oriental e semítica do túmulo vazio) no meio dos seus seguidores, mas seu espírito continua vivo, agindo nos seus corações, suas palavras e seus exemplos continuam sendo a principal força norteadora para a vida e ações dos discípulos e seguidores. Jesus de Mateus – nesse texto – não pediu o reconhecimento dos discípulos, mas exigiu a escuta de suas palavras e continua divulgando a Boa Nova de Deus para todos os povos (v.19). Assim, se deve entender o sentido teológico-cultual da ressurreição: o corpo foi morto e agora se descansou em paz, mas o espírito está vivo agitando a alma de todos aqueles que o acolheram e acreditaram na sua proposta: a transformação de vida a partir de dentro. Os atos e ditos de Jesus (suas palavras e práticas) contagiaram o meu espírito, reacenderam a chama do meu ânimo, do meu entusiasmo e da minha esperança para continuar lutando pela mudança, pela renovação do espírito de vida mais humana, mais solidária, mais libertadora. Ou, como a expressão lapidar de São Paulo de tarso: “Já não sou eu que vivo, mas o Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Observa que a atenção dos discípulos a partir de agora não mais direcionada para o túmulo vazio, mas voltou à Galileia, isso significa voltar à origem onde tudo começou. É esse ponto que o autor da comunidade-Igreja mateana construiu o centro de seu interesse na seção pascal, com o acento na escuta da Palavra-Vida do Guru. Jesus salvou seu IDEAL DE VIDA[2] com a entrega de sua própria vida pela vida de toda a humanidade: “comunhão, comunicação e relação fraterna (A PATERNIDADE DIVINA E FRATERNIDADE HUMANA) de todos os povos (unidade na pluralidade) onde se estabelece a relação pericorética e hologramática, recursiva e dialógica” (cf. Gn 1,26-27; 2,7.21; Jo 10,5.30; 15,4; 10,7-8; Mt 15,21-28; Is 55,8). É sob a luz e a força desse ideal de vida que os discípulos e seguidores devem anunciar a todos os povos. Esse é a Boa nova que deve ser testemunhada, não somente com as palavras, mas principalmente com a prática de vida. Somente assim que a humanidade capaz de sair de uma mentalidade política, cultural, espiritual e religiosa opressora, discriminatória, manipuladora, escravatória e paralisante. A fraternidade de toda a humanidade aqui na terra é, portanto, a antecipação efetiva e afetiva da comunhão plena e eterna quando Deus Trindade se torna tudo em todos (cf. 1Cr 15,28).
Essa é a missão – e ao mesmo tempo o desafio – da Igreja de encarnar a compreensão da ressurreição na história de vida, neste mundo. A Igreja não estar sozinha nessa missão, mas será acompanhada por Jesus (pelo seu espírito de relutância e guiada pela força de sua Palavra e seu Exemplo) todos os dias até o fim do mundo (v.20).
_______&&&_______ Lukas Betekeneng
[1] Há diversos sentidos simbólicos do ato de lavar os pés (e cabeça) no mundo oriental em geral e semitismo especialmente, entre eles, o sinal de equilíbrio, de integridade, de humildade, de reconhecimento da origem existencial, de igualdade e relatividade, etc.
[2] Esse ideal de Jesus foi e será sempre a maior utopia do seu anúncio evangélico de Deus Criador: “A paternidade de Deus e a fraternidade humana” (cf. Mt 23,8-10; Jo 15,13.15)..
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