domingo, 12 de junho de 2011

PENTECOSTES: A FORÇA DO ESPÍRITO DE DEUS QUE FAZ NASCER A COMUNIDADE-IGREJA UNIVERSAL

(Gn 11,1-9; Ex 19; At 2,1-13; Rm 8,22-27; Jo 7,37-39)
P
entecostes é um dos cinco pilares da fé cristã na economia da salvação de Deus para com a humanidade: a Criação do mundo, a Encarnação do Verbo, a Ressurreição do corpo – de Jesus, o Pentecostes (a descida do Espírito Santo) e a Parusia (a segunda vinda ou, o retorno definitivo de Jesus Cristo). O termo é de origem grega antiga (πεντηκοστή) que quer dizer o “quinquagésimo” – dia (Tb 2,1; 2Mc 12,32). Os cristãos celebram a descida do Espírito Santo cinquenta dias depois do domingo da páscoa (ou seja, quarenta dias após a ressurreição e dez dias depois da ascensão do Senhor).
Para entender o relato de Pentecostes, como já tinha dito em meus outros textos anteriores, é necessário procurar entender os textos paralelos do AT. Pois os autores do NT não estão inventando os textos diferentes, mas estão fazendo, contudo, a leitura da realidade atual à luz dos textos do AT, dando, desta forma o novo sentido, uma nova força de compreensão dos fatos, até de certo modo, bem profético para adequar a compreensão da realidade do passado dentro do quadro atual e sugerir as novas visões que apontam para o futuro, e que começa a ser vivido no “já” do hoje, no aqui e agora, rumo ao “ainda-não” de um amnhã diferente, cheio de confiança e de espectativas.
Um rápido olhar histórico. A festa (pentecostes) é uma celebração judaica do calendário pastoril e agrícola da Aliança Mosaica (Ex 23,14-17; 34,18-23), e que possui nomes bem diversificados: a) Hag hakasir = celebração da colheita – de grãos como trigo e cevada (Ex 23,16); b) Hag shabu’ot = a festa ou a celebração das semanas (sete semanas); começa com a colheita de cevada e termina na colheita do trigo (Ex 34,22; Nm 28,26; Dt 16,10); c) Yom habikurim = celebração das primícias dos frutos; é uma festa de entrega ou oferta espontânea – a Deus – dos primeiros frutos colhidos da terra como uva, tâmara e figo (Nm 28,26). Com a dominação da Grécia na Palestina (desde 331 a.C) o nome hag hakasir e hag shabo’ut foram substituídos pelo termo grego, pentekostes, e que permanece até os dias de hoje.
As características da festa. A celebração era muito solene e alegre (Dt 16,11); era a festa de “todos” (ecumênica?): aberta para todos os produtores com seus familiares e amigos junto com suas mulheres e seus filhos (Dt 16,11); era a celebração exclusivamente dedicada a Deus (Dt 16,10), como ato de agradecimento e louvor; o dia da celebração era considerado sagrado (o dia do Senhor), portanto, feriado (Lv 23,21). Para o povo hebreu essas festas são uma celebração da vida, pois acreditam que a palavra do Senhor Jevá estava, desde o princípio, na origem da vida, das “sementes” dos “frutos” da “árvore” do “alimento da vida”. Era uma festa de agradecimento a Deus pelo dom da terra (Dt 15,12).
Recolhendo os elementos simbólicos apresentados. É bom lembrar, antes de tudo, que em toda a Bíblia está cheio de elementos simbólicos. Assim, como o próprio mundo oriental em seu todo ainda é um mundo totalmente diferente, ainda está marcado pelo simbolismo, muito enigmático por isso cheio do mistério, da mística e do místico. Para viver essa realidade exige maior dinamismo interior. Os sábios orientais têm sua visão muito inclusiva em relação ao mundo vivido, isto é, diferenciam umas realidade das outras (mundana e espiritual), mas não as separam excluindo-as. Mesmo porque, o mundo material é visto e crido como parte visível do mundo espiritual invisível, e a realidade divina e espiritual é a essência, a dimensão transcendental da realidade elementar.
O autor lucano dos Atos apresenta séries de elementos e linguagens simbólicos: comunidades todas reunidadas no mesmo lugar (2,1); o vendaval vindo do céu (2,2); línguas de fogo que parte e se repousa em cada um (2,3); falar em outras línguas (2,4); unidade-universalidade (2,5); a abertura maior da compreensão da realidade por causa do domínio de comunicação (2,6). De entre esses simbolismos, há duas palavras marcantes que nos chamam a atenção, e que sevem como baliza do pensamento do autor: “todos ou todas” , isto é, a coletividade (2,1. 5) e “cada um”, a particularidade (2,3). Ou seja, a comunidade e individualidade são realidades inseparáveis, feito moeda de ouro, todos os lados têm valor. A comunidade é constituida pelo indivíduo e este é o elemento real nuclear para a formação e edificação da unidade comunial. Esse jogo de equilíbrio entre a individualidade e a coletividade é a marca própria desse autor.
O pano de fundo do texto lucano de At 2,1-13 é, sem dúvida, uma releitura que o autor faz como antítese do relato sobre torre de Babel (Gn 11,1-9). E também é uma alusão, principalmente, ao relato sobre o dom da lei mosiaca do monte Sinai (Ex 19), quando os hebreus, que não eram povo, mas agora se tornaram um povo entre os povos. Javé, com o dom da Lei, constitui os hebreus um povo para si, povo santo e sacerdotal.
 Observa-se a semelhança e a diferença entre a realidade na torre de Babel e Sinai com a do Penteconstes: a torre, simboliza o poder da tirania, da arrogância, da opressão e do autoritarismo, enquanto que o Pentecostes revela a liberdade, a unidade, a respeitabilidade, a simplicidade e o equilíbrio entre o coletivo e o indivíduo. Na torre de Babel há confusão, isto é, a incapacidade da intercomunicação social, há bloqueio na via de relações e interações no interior das pessoas, não há interpenetração mútua entre o indivíduo; o real (indivíduo), na torre é negado e manipulado em favor do abstrato (o coletivo). Na torre de Babel não há unidade, há somente o ajuntamento de pessoas, mas não há coletividade, há estrutura porém sem a base da comunitariedade que se constitui na individualidade. No Pentecostes, pelo contrário, todos reunidos no mesmo lugar, e cada um comprende o conteúdo da mensagem em sua própria língua, pois há domínio das outras línguas e culturas (isto é, a inculturação) pelos evangelizadores, há liberdade e abertura interior, há respeito mútuo, há equilíbrio entre o indivíduo e o coletivo.
No monte Sinai, a lei foi escrita pelo dedo de Deus na tábua de pedra depois ser entrega para o povo de Israel reunido na espera por esse dom da instrução divina, ao passo que no Pentecostes, o dom do Espirito é infundido no coração, na razão e na vontade, isto é, de dentro de cada um que estão reunido. Por isso há liberdade e não a obrigatoriedade imposta do lado de fora. É a atração e/ou sedução do interior, que ven de dentro da sensibilidade, da racionalidade e da vontade do ser humano. É sinal de maturidade, de equilíbrio e de responsabilidade. O mesmo e o único Espírito de Deus é dado a todos, infundido em cada pessoa, homem e mulher, crianças e adultos sem discriminação nem exceção. Assim, todos, perante Deus, são iguais de fato e de direito.
Refletindo sobre as mensagens. Quando deus está prestes a fazer qualquer coisa de importante no mundo, antes manda sinais para chamar a atenção do povo, porque Deus sabe que somos um ser muito distrativo, esquecente e negligente. Assim acontece com o Pentecostes, Deus mandou o sinal do céu antes de realizar o seu plano de abrir os corações do seu povo para poder escutar a sua voz e assimilar sua mensagem, para, enfim, se unir e fazer nascer a comunidade-Igreja da fraternidade universal, guiado pela luz do Espírito do Ressuscitado. A força do Espírito de Deus reúne a todos de diversos lugares, de línguas diferentes, de diferentes gerações e de culturas diversificadas fazendo-os uma unidade na diversidade. O relato sobre a torre de Babel revela que Deus não quer a unicidade uniformal, fechada, todo mundo fala da mesma língua, vive da mesma maneira, veste do mesmo jeito, age da mesma forma e cria o mundo como uma única aldeia para todos sob um único poder central que manda, vigia e determina em tudo. Deus não permite o império do espírito de arrogância das autoridades tirânicas que querem dominar os indivíduos sob qualquer custo para seu bel prazer e desfaz os seus planos, confundindo suas linguagens e dificultando o acesso de suas comunicações. A metodologia de Deus é própria, usando toda a realidade tão elementar para revelar o mais espiritual. Assim, Deus se serviu da experiência humana de vida e amor para manifestar a sua vontade salvífica, para se revelar sua essência.
Como está indo a nossa unidade cristã? E a Igreja romana? A nossa Diocese e paróquia? A nossa unidade comunitária e congregacional? A nossa unidade afetiva/familiar? E, por fim, a nossa unidade política interna e externa? Parece que ainda temos muito medo da liberdade, medo da individualidade, da diversidade e, então se esconde a trás da coletividade, manipula a comunitariedade para o bel-prazer da autoridade centralizadora e autoritária sob o pretexto da religião e/ou cultura política e muitas outras bandeiras ideológicas e utópicas. Mesmo que auxiliado com a religião e a política o ser humano não conseguiu domar até hoje o ímpeto de sua própria animalidade para implantar a paz e harmonia, promover o diálogo e a concórdia, praticar a justiça e o direito no espaço da convivência social no mundo, imagina sem elas.
Para que a utopia crística da fraternidade do Nazareno possa ser realizada, os cristãos todos foram chamados para se reabastecer, bebendo na sua própria fonte salutar e inesgotável de vida espiritual, que está instalada dentro do seu próprio coração. Também toda a humanidade de fé é convidada para o mesmo objetivo, por isso diz: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (Jo 7,37; Is 55,1). O convite já está dado, e a decisão é sua, é minha, é nossa. Precisamos tirar do nosso peito o coração de pedra e, no seu lugar Deus vai colocar o de carne. É necessário reeducarmos a cada dia a nossa racionalidade, nossa sensibilidade, nossa vontade e nosso desejo para podermos conviver e correlacionar melhor com as diferenças de modo mais humano, mais saudável, mais fraterno, mais compreensivo e mais tolerante. O efeito do Pentecostes para os cristãos em particular e a humanidade em geral é a união, a comunhão, a relação e a comunicação, é o respeito, a tolerância, o cuidado, a paciência, é o abraço cordial e o beijo fraterno, é o eterno enamoramento apaixonado pela vida virtuosa.
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                                     Por: Lukas Betekeneng

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