(Mt 2,13-18)
Q |
ual é a intenção do autor fazer a releitura da história de Moisés, no Egito, nesse relato sobre Jesus de Nazaré (cf. Ex 2,15)? Conforme o texto apresentado, qual é o tipo do ser humano segundo Mateus? Qual é a mensagem que o autor quer nos passar através desse relato? Para facilitar nossa reflexão, podemos dividir nosso texto em duas partes: 1ª parte, vv. 13-15, que relata sobre a fuga para o Egito; e a 2ª parte, vv. 16-18, que fala do massacre contra vida dos inocentes em Belém.
Primeira: a fuga para o Egito (vv. 13-15)
Ao reler a história de Moisés (Ex 2,15), o autor da comunidade-Igreja de Mateus quer mostrar o seu Jesus a sua comunidade como um Novo Moisés para o novo povo de Deus. Assim, como Moisés, que é o mago da água, foi chamado por Deus para libertar o povo de Israel das mãos dos faraós, do Egito, e conduzindo-o à terra prometida atravessando o mar vermelho e deserto do Sinai, também Jesus de Nazaré, que é o mago da terra, foi chamado por Deus para libertar o novo Israel da morte e conduzindo-o para a vida em plenitude. Mas o autor também inseriu um novo elemento que mostra o significado do seu Jesus personificado: “Do Egito chamei meu filho” (Os 11,1). Jesus é, nesse contexto, além de ser o Filho de Deus, é um Novo Moisés, também é a personificação do novo povo eleito do Senhor (os cristãos). Como Moisés foi chamado e enviado por Deus para criar o povo da outrora, Deus também chama Jesus do Egito para criar um novo povo eleito (cf. Mt 21,41-43). Como Moisés deu aos seus a Torá, o Novo Moisés também deu aos cristãos o Evangelho. A fuga para o Egito serve como pano de fundo histórico da reconstituição do novo Israel (o cristianismo) sob a liderança do Novo Moisés, o Jesus de Nazaré, o Cristo-irmão compassivo e misericordioso. Jesus, na concepção do autor, refaz o caminho do primeiro povo bíblico de Deus. Assim, o autor percebe na vida de Jesus Cristo a concretização da ação libertadora análoga de Deus. Jesus de Nazaré é, segundo o autor, o Novo Moisés para o novo povo eleito de YHWH-Adonai.
Segunda: massacre dos meninos de Belém (vv. 16-18)
Mesmo que o autor da comunidade-Igreja de Mateus relata um acontecimento de crueldade sem medida contra meninos inocentes de até dois anos de idade, praticado pelo Herodes para defender sua pose, não se encontra o registro oficial desse fato impiedoso em nenhuma fonte extra bíblica. Esse relato pode ser uma releitura que o autor faz da história dos antepassados de Israel quando o faraó perseguiu contra os filhos dos hebreus (cf. Ex 1,15-16). A citação da profecia de Jeremias (Jr 31,15) encontra-se em Ramá, lugar cerca de nove quilômetros ao norte de Jerusalém, nas fronteiras de Benjamin (Js 18,25; Ne 11,33). Ramá (ou, Ramah, em hebraico = altura) é a região onde se encontra a sepultura de Raquel, a esposa de Jacó (1Sm 10,2). Jesus é aquele povo que escapou da espada da crueldade (cf. Jr 31,7). Herodes é, para o autor, o novo faraó em Belém. Isto é, onde há violência, lá tem sempre o faraó. Herodes e faraó são o símbolo da crueldade e/ou a brutalidade contra vida, contra o direito, a liberdade e a dignidade das pessoas, símbolo da ganância, da tirania do poder. Esse faraó e esse Herodes também estão dentro de cada um/uma de nós, homens e mulheres de hoje, nas nossas famílias, nas nossas instituições estatais e religiosas. A prática de crueldade contra crianças inocentes de Belém em vista da defesa do trono revela, inegavelmente, a incompetência da autoridade em todas as gerações da humanidade, em todos os sentidos e níveis.
As vítimas da ganância do poder hoje
Continuamos vivendo em um mundo de contraste: mundo de muita racionalidade e pouca sensibilidade, de muita religião e pouca salvação, de muitos líderes sem liderança, ou de muitos governos e poucas governanças, de muitos códigos de justiça e poucas práticas justas, de muita religiosidade e pouca mística e espiritualidade humanas e salvíficas, de muitos pais e mães e carência de paternidade e maternidade, de muitas explicações com eloquência sobre a fraternidade e falta as exemplificações eficazes da mesma. A brutalidade contra vida em geral, e a das crianças em particular, não só permanece até os dias atuais, mas também se endurece a cada dia. As formas de massacre crescem, endurecem e se sofisticam cada vez mais em nossos dias em nome do poder, do prestígio e da posse camuflado atrás da bandeira de democracia, das leis (constituições), de direito, de carisma, de saúde, de justiça e outros mais (veja imagens).
Essas realidades revelam que o ser humano não conseguiu tornar-se humano salvífico, não conseguiu revelar o rosto de seu Deus-amor compassivo e misericordioso. Ele ainda vive mergulhado na sua miséria de animalidade sóltica (do solo) e empoeirada, ainda não conseguiu ingressar na sua essência angélica e celestial como imagem e semelhança do Criador, como Filho de Deus da vida e do amor. Que o sopro de vida e do amor de Deus, neste tempo de Natal e ano novo, toca a sensibilidade dos homens e das mulheres de hoje.
________&&&________ BH., 28/12-2011
Lukas Betekeneng
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