“A humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja”[1].
3º Domingo do Advento, 11/12-2011
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(Jo 1,6-8.19-28)
omo outros evangelistas, o autor da comunidade-Igreja joanina apresenta, igualmente, o Batista como testemunha ocular da humildade e da cordialidade na sua relação com Jesus de Nazaré. Assim, na sua programação de “semana teológica”, o autor apresenta a confissão de fé, vida e missão do Batista. Diante de uma comissão investigadora, enviada pelos levitas, fariseus e saduceus, João Batista deu seu testemunho de fé e vida, sem medo, sobre Jesus de Nazaré em um tom bem irônico e acusatório, dizendo: “Eu não sou nem Messias, nem Elias (o profeta que prega a fidelidade à Lei de Moisés) e nem profeta. Sou a voz que grita no deserto. Eu batizo com a água (reconhecimento de si); mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis (ironia e acusação) e que vem depois de mim. (agora, vem o testemunho de humildade e, ao mesmo tempo, mais ironia contra os sacerdotes, os levitas, os saduceus, os doutores da lei e os anciões em geral) Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias” (vv. 20.21.23. 26.27). João Batista é, segundo o autor, o fiel portador da modéstia, da cordialidade, do respeito, da simplicidade, da honestidade, da passividade e da humildade. É esse testemunho joanino que faz nascer a fé do discipulado crístico (v. 7). É o ato de promover a vida pela vida futura esperançosa e transformadora. A missão específica de Batista, segundo o autor, é endireitar o caminho de vida e fé em Jesus de Nazaré, o Cristo-irmão misericordioso.
Através de sua resposta negativa: “eu não sou”, revela o conteúdo de seu ensinamento: ele ensina a ser fiel ao amor de deus, e não para obedecer a Lei de Moisés, representada pelo Elias ou um outro profeta; isso porque acreditaram que, com a prática de obediência a Lei, haveria de surgir um novo profeta como Moisés (cf. Dt 18,15.18) A pergunta: “Quem é você” (v.19), revela o pano de fundo da situação: o conflito e/ou a crise de identidade e de valores, de liderança e de maturidade, de equilíbrio e de relações entre gerações, crise de esperança de vida e de fé. Deve lembrar que esse autor tem sua característica típica, usando os termos de oposição, como: céu x terra; de dentro x de fora; saber x não saber; espiritual x profano, conhecer x não conhecer; ver x não ver; filhos da luz x filhos das trevas; anjos x satanás (aquele que separa; desune).
A palavra “humildade” é de origem latina – humus – que quer dizer, filhos da terra. Refere-se à qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre as outras pessoas e nem mostrar-se superior a elas. Essa é a qualidade de João Batista que o autor pretende mostrar aos seus adversários. Assim, o termo que o Batista adotou: “eu não sou” como forma simbólica que serve de chave para abrir o caminho para Jesus que vai se revelar como “Eu sou” ao longo de sua missão. O termo “eu sou” adotado pelo autor, revela a fidelidade ao Deus-amor e não à lei. Por isso diz: “A Lei foi dada ao por Moisés, mas o amor e fidelidade vieram através de Jesus Cristo” (1,17).
Quando o Batista diz que não merece tirar as sandálias (a “lei do cunhado”) nos pés de Jesus, ele, na realidade, está revelando o Jesus Cristo como o “esposo” da humanidade, por isso confessa que não tem nem merecimento nem poder e nem direito para desamarrá-las. E quando se apresenta como a “voz no deserto”, relembra a voz de Deus que chama o povo do Egito caminhando pelo deserto rumo à terra prometida, terra de liberdade e de vida. João diz também que batiza com água, isso ele quer relembrar a travessia do povo no mar vermelho, liderado pelo Moisés; e afirma que Jesus batiza com Espírito Santo, significa que o Cristo-esposo, com sua prática de fidelidade e amor pela vida, vai liderar o povo-esposa nessa travessia rumo à vida em plenitude.
Nessa crise de vida atual, estamos atentos aos sinais dos tempos? Somos capazes de ouvir a voz de Deus? Quais os testemunhos que devemos dar para fazer nascer a fé e amor nos nossos ouvintes? Qual a nossa atitude diante das novas gerações, de confiança ou de desconfiança? Quais as nossas práticas que entortam o caminho de Cristo em relação para com os jovens?
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Lukas Betekeneng
[1] Miguel de Cervantes Saavedra de Alcala Henares ou, Miguel Cervantes (1547 - 1616) é o célebre poeta espanhol.
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