(Mc 4,26-34)
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de suma importância relembrar, antes de tudo, que Deus nunca foi nem é e não será um rei e nem mesmo tem um território real para o seu reinado, nem aqui e nem acolá. Isso, porque tudo o que ele criou é doado para a humanidade, até mesmo sua própria vida foi doada por amor ao mundo (cf. Jo 3,16; At 17,24-25; Rm 5, 6-8), de modo especial, a nós, homens e mulheres, criados à sua própria imagem e semelhança (cf.Gn 1,26). Ele acompanha bem de perto, está sempre juntos de suas obras, mas não pressiona e nem impor suas autoridades para dominá-las autoritariamente. Muito pelo contrário, respeita a autonomia “creativa” e liberdade-responsabilidade. Os termos “reino” (e/ou “rei”) e “senhor”, usados pelos evangelistas, são de origem sociopolítica, todavia, aqui recebe o sentido diferente, o do teológico, para ironizar as tiranias das autoridades em gestão. Para o autor, o papel das autoridades é defender os direitos do povo, promover a sua liberdade, cuidar do bem-estar e proteger toda população dos perigos que ameaçam a paz e harmonia da convivência e, sobretudo, a vida de sua integralidade. Mas o que as autoridades estão fazendo é tudo o contrário do que deveria ser. Ao chamar Deus de “nosso rei e senhor” é, portanto, uma forma de desconsiderar e desestimar a credibilidade das autoridades, religiosas e políticas.
O que Deus quer de toda a humanidade é a salvação integral de sua vida (Jo 6,37; 1Tm 2,4; 2Pd 3,9; Ez 18,23.32), aqui mesmo na terra e depois. Para que o homem possa compreender a linguagem de Deus da paz e salvação, existe somente uma única saída: ele tinha de se encarnar no mundo e se tornar um de nós e, então, pode se comunicar conosco, diretamente, em nossa linguagem. Dessa mesma forma, ele quer que nós também devemos nos tornar irmãos, uns para com os outros, para proporcionar o nosso ambiente social de convivência mais harmoniosa onde a paz verdadeira, a tolerância, a harmonia, a justiça, o direito e a liberdade responsável têm o seu lugar (cf. Mc 10,34-45).
O texto que estamos refletindo, o autor fala de forma comparativa o reino da fraternidade para facilitar a nossa compreensão. A vida fraterna, que é a característica do ambiente convivencial do reino de Deus, é uma semente do céu, mas foi implantada no chão humano. Isto é, fruto do trabalho conjunto entre Deus e homens. Nós somos cooperadores de Deus neste mundo (1Cor 3,9). Assim, o reino de Deus na vida dos homens é um processo contínuo, uma edificação, um projeto participativo entre o divino e humano. É, antes de tudo, o dom de Deus, mas a responsabilidade final cabe a nós, homens e mulheres desta terra. Nós temos de nos esforças muito para que o reino de Deus da fraternidade aconteça, de fato, em nossa vida, pois do contrário, não seria possível. Não adianta rezar e gritar, chorar até sair lágrimas de sangue, mas se não colaborar, tudo será em vão (cf. Lc 6,46).
A semente, o grão de mostarda e a terra do qual as sementes foram semeadas são imagens parabólicas da forma de como tudo foi iniciado. Os grandes projetos somente se tornaram grandes, de fato, porque começaram humildes. As sementes cresceram e se tornaram grandes e se frutificaram abundantemente por causa do empenho entre ambos os lados: Deus e homens. E, também, depende da qualidade da terra, que não é outra coisa, senão cada um/uma de nós. Deus depositou essa semente do reino de fraternidade em nós; nós temos de semeá-las no chão de nossa vida cotidiana, adubando-a e rega-a todo o dia, mas Deus quem vai fazê-la crescer e frutificar. Para isso, precisamos de muita perseverança, paciência, confiança e, sobretudo, humildade, tanto no nível psicológico (refere-se a nossa ambientação humano-social) quanto ontológico (refere-se a nossa situação perante Deus). Que sejamos bons cooperadores de Deus na edificação de seu “reino” da fraternidade universal.
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BH., 27/01-2012
Lukas Betekeneng