(Mc 2,18-22)
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atitude de Jesus nos mostra que viver a fé de modo diferente é possível. Isso representa a creatividade na fidelidade e o crescimento maduro da experiência do amor de Deus. Dois tipos de escolas da vida de fé (a escola batista e farisaica e a escola nazarena) foram colocadas lado a lado para revelar, cada qual a sua compreensão sobre o ser homem e mulher de fé na concepção da religião (enquanto sistema) e na concepção religiosa enquanto a sua natureza essencial e criadora como imagem e semelhança. Para a escola batista e farisaica de fé, ser fiel à tradição religiosa e/ou ser piedoso é fazer-se dócil à autoridade como detentora do poder de fato e de direito religioso e seguir todas as regras religiosas por ela estabelecidas, cumprir todas as normas e preceitos legais do sistema religioso, independentemente do contexto. Essa compreensão do ser piedoso e fiel ao sistema religioso revela o tipo do rosto de um Deus-juiz, ciumento, autoritário, tirano, raivoso, vingativo, condenatório. Essa é a característica do Deus-preceito, dogmatizado e/ou doutrinado. Isso significa que o centro dessa escola de fé, não é a própria Vida – de Deus – humanizada e Humana divinizada, mas os preceitos criados pela autoridade, as delimitações dogmáticas e/ou doutrinárias (a lei). O ser humano é, nessa concepção religiosa, feito para a ideologia da religião, o escravo dos preceitos.
Diferente das escolas batista e farisaica, a escola nazarena dá um novo rumo do ser religioso, do ser fiel e piedoso, um novo compreender da religião, e revela, com isso, o rosto de um Deus totalmente outro, distinto das escolas farisaica e batista. Para Jesus, ser fiel à tradição religiosa não é seguir todas as regras estabelecidas cegamente, muito pelo contrário, ser fiel e/ou piedoso é fazer a tradição progredir, atualizá-la e/ou adequá-la em cada contexto, dar-lhe o novo sentido, o novo impulso, uma nova dinâmica para a vida. Qualquer lei, regras e/ou preceitos religiosos, por melhores que sejam, têm sempre como núcleo é a vida humana (o ser humano-imagem e semelhança e filho), que é o Espírito de Deus em pessoa no mundo e não o contrário. Seguir os preceitos religiosos como fazer jejum no tempo prescrito pela tradição, segundo o Jesus de Marcos, não é o mais importante do ser fiel ao amor de Deus. Essa é a prática externa que pode ser manipulada para enganar os olhares, como feita uma maquiagem para esconder a podridão da realidade. A essência do ser religioso é traduzir o amor de Deus em práticas de justiça e do direito, de liberdade e solidariedade, do diálogo e da paz, do perdão e reconciliação. Vale alguma coisa jejuar o corpo da fome e sede e mortificar a alma dos desejos num determinado tempo sem modificar o comportamento mais justo, solidário e, portanto, mais humano? Não tem sentido nenhum rasgar as roupas e chicotear o corpo sem rasgar o próprio coração e transformar o próprio comportamento (cf. Jl 2,13). O jejum ritual da abstinência de alimentos em si não é mau, mas pode não ter valor nem sentido para a vida se não houver uma opção profética de entrega de si próprio, se não houver uma capacidade de esvaziar-se para assumir com afinco o projeto do convívio fraterno de Deus e fazer acontecer a vontade do Pai (10,45).
Na resposta de Jesus às perguntas dos discípulos de Batista e dos fariseus revela que a novidade radical do Nazareno transforma por completo o ser, isto é, não tolera comportamento de apegos do passado. Assim, a nova aliança representa um salto qualitativo, efeito da ação libertadora de Deus que inaugura o novo tempo, uma nova vida e um novo jeito de ser e relacionar, pois: “ninguém jamais põe um remendo de pano novo numa roupa velha e o vinho novo em odres velhos” (vv. 21. 22). Dizemos que a escola nazarena se desvincula das instruções farisaicas do templo tanto quanto da prática desértica de ascese do Batista. Nessa resposta-parábola de Jesus do esposo, o autor, na realidade, está fazendo a memória do segundo patamar da experiência do relacionamento afetivo nupcial do Deus-amado/amante (a erosfania) para com a humanidade. Por esse tipo de relacionamento afetivo do amado/amante (místico/erótico) que faz com a vida se torna mais alegre feita uma celebração, uma festa sem fim. O que Jesus de Marcos quer dos seus seguidores é a resistência até o fim, mesmo diante do ódio, da maledicência e da perseguição (5,11-12). A base dessa resistência consiste no fazer o bem de modo justo e libertador para com todos aqueles que são explorados e oprimidos, injustiçados e desprezados, abandonados e excluídos, que não são outra coisa senão o semelhante, são do mesmo sangue e da mesma carne (cf. Is 58,6-7).
É necessário fazer passar da fé segundo a concepção da religião, enquanto sistema, à Fe religiosa que é a essência da natureza humana criadora. A fé da religião delimita e limita empobrecendo a rica experiência do amor de Deus manifestado de modo livre e contextualizado, ao passo que a fé religiosa alarga e aprofunda o horizonte da compreensão da manifestação da vida e amor de Deus mais abrangente e livre, mais aberta e mais dialogal com a diversidade individual, sociocultural e sociopolítica, portanto, mais comunional e enriquecedora. É preciso crescer e amadurecer na experiência de vida e amor de Deus, a cada dia e sempre mais.
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BH. 16/01-2012
Lukas Betekeneng
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