quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A AUTORIDADE CENTRADA NA PESSOA

“No mais simples gotinha está contido o imenso poder do oceano”
(Mc 1,21-28)
P

odemos dividir o nosso texto de reflexão em três partes; a primeira, aparece a cena de entrada de Jesus na sinagoga, em Cafarnaum, num dia de sábado, juntamente com os demais pessoas (vv. 21-22); a segunda, o autor mostra a cena do confronto entre o bem e o mau, representado por Jesus de Nazaré, (do lado do bem) e o possesso (do lado do mau) com a vitória do bem (vv. 23-26); o ponto alto dessa parte é o reconhecimento da identidade originária de Jesus como o digno enviado autorizado: “Tu és o Santo de Deus” (v. 24). A arrogância e a cegueira espiritual acabam impedindo a visão do coração das autoridades para poder reconhecer, em Jesus de Nazaré, a presença salvadora de Deus. E a terceira, sobre o influxo, produzido pelo confronto entre o bem e o mal, nos corações dos ouvintes (vv. 27-28).
O comportamento solidário e os ditos coerentes revelam sua diferença, e o ato humanizador confirma a qualidade do “ser” de Jesus (vv. 22. 27). A pessoa humana, para o Jesus de Marcos, está acima de tudo, é o centro preferencial, qualquer atividade deve estar a serviço do bem-estar integral da pessoa humana e não o contrário (cf. 2,28). Para que haja a diferença e que o novo também possa surgir é necessário que tenha a coragem e a capacidade de reinventar e renovar, tenha a vontade de transformar e não de repetição e/ou imitação cegamente sem produtividade nem novidade. Isto é, a maturidade e a criatividade na fidelidade, é a responsabilidade.
Primeira parte (vv. 21-22). O sábado é, conforme a tradição farisaica do templo, o dia de descanso religioso obrigatório dos judeus (cf. Ex. 20,8-11). Nesse dia, também, é proibido trabalhar, proibido andar até mais de seis estádios (+ 1.390 metros). É o dia reservado especialmente para a oração e estudo da Lei. A própria Lei do sábado foi criada a partir da experiência babilônica do exílio da qual os judeus foram obrigados à corveia (trabalho penoso prestado ao soberano) sete dias por semanas. Cafarnaum (+ 35 km de Nazaré) é o centro de atividade de Jesus, segundo os sinóticos (cf. Mt 4,13; 9,1; Lc 4,31). A expressão: “ensinar como quem tem autoridade”, pode ser entendida como ensinar com creatividade, franqueza, com liberdade. É nesse ponto que consiste a novidade do ensinamento de Jesus.
Comparando com os mestres e doutores da Lei, o ensinamento de Jesus de Marcos demonstra o crédito da confiabilidade de uma autoridade que faz vibrar os corações de todos os ouvintes e dar-lhes a vida nova, o ânimo, o entusiasmo (v. 22). Ou seja, o Jesus de Nazaré, segundo a comunidade-Igreja de Marcos, é a autoridade legítima que merece o crédito de fidelidade. Assim, uma autoridade que não respeita o direito, a liberdade e a dignidade, não protege nem defende o bem-estar dos seus membros e não promove a justiça para todos, não merece respeito, portanto, deve ser questionada, negada e desodedecida.
Segunda parte (vv. 23-26). O autor da comunidade marqueana apresenta seu Jesus, não só como o mais Forte dos fortes (1,7; 3,27) que vence o poder tirânico dos adversários que oprime e coloniza o povo, mas também o Santo de Deus (v. 24), o Enviado divino, a NOVIDADE de Deus em operação. Nesses versículos, o autor mostra a diferença entre a autoridade dos líderes religiosos e políticos e a de Jesus Cristo. Em vez de cuidar, de proteger, de promover a liberdade, de oferecer a segurança, de garantir a integridade física e psicoemocional e espiritual, violentam o povo com sua brutalidade feito o demônio. Ao passo que Jesus de Nazaré demonstra a sua autoridade na atitude de cuidado, de promover a liberdade e libertação, de exercitar a justiça, de proteger e garantir o bem-estar integral das pessoas. A atitude libertadora de Jesus demonstra sua consciência de liberdade e de superioridade em relação às leis, às tradições e aos costumes religiosos. Isto significa que, o ser humano é o mais importante, ele é o centro de toda a atividade sociocultural, política, econômica e religiosa. A religião é para o homem e não o homem para a religião. O Filho do homem é o senhor da Lei (cf. Mt 12,8). Com seus atos Jesus revela que, no mais simples de um homem nele está escondida a força de Deus. Essa força do Espírito de Deus em nós deve ser pregada para salvar a vida de toda a criação e não para subjugar e destruir.
A terceira parte (vv. 27-28). A atitude diferente de Jesus confirma a legitimidade de sua autoridade. A fidelidade farisaica de selar a lei pela lei, para Marcos, é a forma de traição contra Lei de Deus. Ser fiel, na perspectiva de Jesus, é ser criativo para reinventar e dar a vida nova à tradição, é inovar, é transformar. Jesus que é um simples homem do interior, filho de um carpinteiro com uma simples dona de casa, que não faz parte da classe nobre da sociedade, que não é da família sacerdotal e que não tem título de honraria como mestre e/ou doutor da Lei, mas demonstra com convicção a novidade na maneira de ensinar como quem tem autoridade, revelando o crédito de seu ensinamento novo dado com legitimidade, isto é, com criatividade e coerência, capaz de superar as forças dos espíritos maus que ameaçam a tranquilidade e a integridade das pessoas.
Todos nós, homens e mulheres, somos chamados a revelar o rosto de Deus compassivo, amoroso e misericordioso de Deus de Jesus de Nazaré, o nosso Cristo-irmão, através dos nossos ditos sinceros e atos efetivos. Lembre-se que nem tudo que se fala com a Bíblia, a Bíblia fala o mesmo; e nem tudo que se faz em nome de Deus, o Deus aprova tudo aquilo que se faz. É preciso ser prudente e ter cuidado, ser fiel ao amor de Deus pelo amor ao próximo.
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Lukas Betekeneng

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