segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

CONVIVÊNCIA SOLIDÁRIA: CAMINHO PARA A HUMANIDADE MAIS HUMANA E SAUDÁVEL

(Mc 1,29-39)
N

ão tem como pensar em, e falar da libertação/salvação sem pensar e falar do libertador/salvador. O que se percebe na realidade é, que muito pouco um ser humano consegue fazer alguma coisa sozinho sem a contribuição e/ou a participação dos outros. Assim, podemos dizer, sem exagero, que para realizar um desejo na vida, uma pessoa depende, quase, mais de 99,9% da colaboração do Outro, dos outros e dos demais, direta ou indiretamente. Isso significa que, o ser humano é, antes de tudo, um ser social, e sua relação convivencial no espaço comum é de interdependência (relação de mútua ajuda) onde há equilíbrio entre o dever e o direito. Por isso é de estranhar quando houve alguém se ousar dizer, sem nenhuma reflexão crítica, que não necessita de nada nem de ninguém para viver e fazer-se feliz. Se isso fosse o caso, seria mais uma mentira atrás de outras mentiras. Toda a vida humana é, antes de tudo, de interdependência e não de autossuficiência, pois ninguém nasce, vive, cresce, amadurece e ser feliz sem a contribuição dos outros e a dos demais. A solidariedade torna-se, nesse sentido, o paradigma de vida humana social e espiritual. A individualidade, sim, mas o individualismo, não. Pois ele é a corrupção da personalidade humana integral e saudável, é o câncer que corrói as células da unidade comunional da salubridade da convivência social solidária.
A vida existencial é passageira, isto é, de passagem, uma estadia temporária, uma transição. Além de transitoriedade a vida também sempre marcada pelas situações bem contrastes: a alegria e a tristeza, as conquistas e derrotas, a enfermidade e salubridade, cair e levantar. O sorrir e o sofrer são companheiros nessa travessia de vida rumo à eternidade. Assim, segundo a reflexão do livro de Jó sobre a sua experiência de vida (cf. Jó 7,1-4.6-7). Segundo o autor, a vida é como o vento que sopra e também sempre é acompanhada pela dor e sofrimento, dia e noite (cf. Jó 7, 4.7). A dor e sofrimento, do ponto de vista psicológico, são experiências desagradáveis para qualquer ser humano, mas por outro lado, da compreensão espiritual, são caminhos abertos para a transcendência, para o equilíbrio psicoemocional e espiritual, é a oportunidade para o crescimento e amadurecimento integral, uma vez que todas as realidades, por mais contrastes que sejam, fazem parte da existência da vida humana.
O sofrimento tem sua mensagem pedagógica e educativa que transforma a vida do próprio ser humano mais humano solidário, mais compreensivo, mais tolerante, mais respeitoso e, sobretudo, tem mais atitude de cuidado da vida, a própria, dos outros e a dos demais. Quem já tem a experiência da dor e do sofrimento e consegue aprender com isso, tem mais maturidade de lidar com a vida, compreende melhor sobre o que significa sofrer e sorrir, está, mais ou menos, bem preparado para acolher, respeitar e viver a realidade do desespero, da dor e do sofrimento sem perder a fé e a esperança do amor de Deus. A atitude de vida solidária (a solidariedade), neste contexto, torna-se a fonte de alegria (ou, a Boa Notícia de Deus) desejada por toda a humanidade. A solidariedade, em si, é como uma pomada lenitiva que mitiga as dores e os sofrimentos da alma, que suaviza as fadigas imaginárias e alivia o peso das tensões do espírito.
A atitude de solidariedade como ato de cuidado da vida, que não é outra coisa, senão a índole da Boa Notícia de Deus é de responsabilidade de todos nós, homens e mulheres, os apóstolos de Deus. Não é uma obrigação externa, mas é uma necessidade interna, a maturidade da consciência humana social e espiritual, fruto da fé, esperança e amor. O Apóstolo Paulo diz: “Ai de mim se eu não pregar o evangelho” (cf. 1Cor 9,16). Fazemos as palavras de Paulo nossas, dizendo: “Ai de mim se eu não praticar a solidariedade”. A solidariedade se torna, com isso, o projeto de Deus para a salvação da vida humana.
O autor do evangelho da comunidade-Igreja de Marcos apresenta uma situação de dor e sofrimento ou, de enfermidade na comunidade. Entendemos a enfermidade, aqui, no sentido mais amplo: a enfermidade física, a enfermidade mental e moral social e a enfermidade afetiva e espiritual. Há três significados do sofrimento: A), o sofrimento entendido como aviso para a responsabilidade e prudência. Por exemplo, os sofrimentos provocados pelo descuido no trânsito, pela impaciência, intolerância, pelo desrespeito e outros mais que conhecemos. B), o sofrimento como consequência natural; por exemplo, a doença. Nós somos a parte integral do mundo, que é composto de forças em conflito contínuo para a sua sobrevivência. O que é válido nesse conflito, é a lei da natureza: vence quem é mais forte. C), e, por fim, o sofrimento entendido como parte do processo do chamamento para a vida eterna. Por exemplo, o sofrimento da velhice e das doenças incuráveis. A situação do primeiro e do segundo é reversível, mas a do terceiro é irreversível. Essa realidade é preciso ser acolhida e vivida conscientemente e com maturidade, mantendo sempre firme na fé em Deus-amor, que é a única fonte das forças de vida, da esperança e consolação.
Há quatro verbos principais no relato de cura da sogra de Simão: escutar (ouvir o relato dos seus companheiros sobre a situação de saúde da sogra de Simão que já está no pretexto), aproximar, segurar pela mão e ajudar a levantar (vv.30-31). Todos esses verbos representam o processo de solidariedade. Quem é solidário sempre vive com olhos e ouvidos atentos e o coração aberto e sempre está pronto para ajudar. A solidariedade é, portanto, o amor em movimento. O Salmo 73,23 fala que Deus, com suas forças segurara seu povo pela mão direita, conduzindo-o com seu conselho até a sua glória. A maneira de Marcos escrever esse texto exatamente para relembrar a sua comunidade-Igreja da salvação/libertação, da vitória do bem sobre o mau e, sobretudo, da ressurreição (cf. 5,41; 9,27). O autor assinala também que Jesus começou fazer a cura depois da oração sinagogal e terminou o trabalho de cura da sogra de Simão com a oração pessoal. Ou seja, a ação de Jesus sempre começa e termina com a oração. Jesus, segundo o autor, não só curou a enfermidade, mas também expulsou os demônios. Isso significa que, a enfermidade – física e mental e moral social tanto quanto afetiva e espiritual – e o problema de vida demoníaca infiltraram até para dentro da vida privada (no lar familiar). O trabalho de cura, que é o exercício de solidariedade, o ato de cuidado da vida humana torna-se, então, uma missão essencial da vida cristã. Todos nós fomos chamados para essa missão, para fazer o mundo um lugar mais humano e mais irmão, uma sociedade mais solidária e mais harmoniosa, uma convivência cada vez mais saudável, mais justa e mais tolerante, um lar mais  irmão para ser habitado por todos.
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Lukas Betekeneng

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