(Mc. 7,1-13)
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radição pela tradição e lei pela lei sem mais nem menos é hipocrisia! Pois nem tudo que se fala com a Bíblia, a Bíblia fala o mesmo; e nem tudo que se faz em nome de Deus, Deus o aprova. Seguir Jesus Cristo, isto é, acolher o seu Evangelho e aceitá-lo como o único Bem de Deus significa buscar somente a vontade do Pai e põe em prática. Isso significa que, tem de romper até com a própria tradição, costumes e leis que não correspondem com o amor libertador e, portanto, salvífico de Deus para preservar a maior herança divina no mundo: a humanidade-imagem-e-semelhança e filho. As leis, as tradições e costumes, na maioria das vezes, impedem que o ser humano possa crescer e amadurecer saudavelmente no amor de Deus. As leis e tradições são coisas da instituição, instrumento facilitador para a autoridade exercer seu ofício de mandato – alegando-se, muitas vezes, em nome de Deus, mas nem tudo isso sempre aprovado por Deus.
O autor nos relata que os fariseus e escribas, provenientes de Jerusalém, censuraram Jesus por causa de seus discípulos não seguiram a tradição dos antepassados (vv. 1-5). Esse confronto com líderes religiosos e políticos (iniciado em 2,1 – 3,30), que se estende até aqui, demonstra a atitude de incredulidade dos mestres e doutores da lei em relação à presença de Jesus como o enviado de Deus (cf. 8,11-13.14-21).
A atitude de Jesus e seus discípulos naquele momento, de não lavar as mãos antes da refeição, revela que existe a situação de escassez da água naquela casa em particular, e em Israel em geral, naquele tempo de dominação romana. A água é um elemento vital para o povo bem simples; um pouco de água que tem só dá para beber e preparar o alimento e não para fazer limpeza e outros mais como a realização dos ritos adicionais. Percebe-se que o autor, com esse relato, nos mostra mais uma vez a atitude preferencial de Jesus diante das leis e costumes: descumprir as Leis, as tradições e os costumes dos antepassados para preservar a vida presente. Quando há vida gritando pela outra vida pedindo socorro, as leis, as tradições e costumes, por mais sagrados que sejam, precisam ser ignorados em favor do ser humano. Ou seja, em qualquer circunstância, o bem-estar de vida do ser humano deve estar em primeiro lugar, deve ser o primeiro a ser resgatado e conservado e não a tradição, leis e costumes.
Ao responder a censura dos mestres e doutores da Lei, citando a profecia de Isaías (Is 29,13), Jesus os acusou de hipócritas, pois suas orações não correspondem com suas práticas de vida do dia a dia. Isso porque suas práticas de oração só para cumprir a lei, e não por causa de necessidade interna do espírito. E pior ainda, quando os textos de orações não são os versos que brotam da própria experiência de vida. Dessa forma, os textos de oração são lidos somente com ritmos bem organizados, contudo, não são rezados e contemplados suficientemente, por isso não tem a eficácia nem a força renovadora capaz de transformar a consciência e que se imprime no agir inovador e salvífico.
É esse, o nosso problema, falamos muito a Deus, mas pouca com Deus. Ele é sempre obrigado a escutar a nossa fala, mas nós não nos dispor a escutar a sua resposta, porque nós não o deixamos a falar. Não sabemos calar a nossa boca para poder abrir os ouvidos do nosso coração para ouvir a sua voz. Continuamos falando o tempo todo e logo fomos embora sem antes que ele começa a nos responder. É por isso mesmo que rezamos muito, dia e noite, mas não mudamos em quase nada o nosso comportamento, a nossa mentalidade, o nosso modo de ser, de viver e de relacionar, com nós mesmos, com o próximo, com o cosmos e com Ele. Assim, continuamos vivendo o nosso velho homem da infantilidade adâmica. Prosseguimos no seu caminho e louvemos o seu nome com a boca, mas o nosso coração bem distante dele. Seguir a tradição dos antepassados por seguir para ser visto como fiel cumpridor de Lei sem o raciocínio crítico significa fazer-se escravo da tradição, é o sinônimo de quebra da fidelidade à aliança de amor, isto é, a traição contra o mandamento de Deus (v. 8).
Jesus também apontou as negligências dos mestres e doutores da lei, dizendo que em vez de cuidar seus pais, usando os seus bens como determina a lei (cf. Ex 20,12; 21,17; Dt 5,16; 27,16; Lv 20,9), eles doam para o templo como corban. Isto é, oferecer ao Templo os seus bens como voto de consagração a Deus. Esse ato, para Jesus, não é legal, não é aprovado por Deus, mesmo que tem o feito em nome dele, pois a prática representa, na verdade, o desprezo aos próprios pais. É o desvio de conduta ética e moral social e espiritual, a corrupção da responsabilidade em relação ao cuidado dos pais. É a traição contra o quarto mandamento do Senhor de honrar, isto é, de sustentar, de cuidar o pai e a mãe, que não são outra coisa senão o próximo mais próximo de nós, são a fonte primeira da nossa existência geracional. Essa é a prática mais elegante e astuciosa para tornar um homem impenetrável e refratário às exigências da vontade de Deus. Não tem como amar a Deus sem amar o próximo; e o próximo mais próximo são os próprios pais e irmãos. Os homens e as mulheres de fé madura e saudável devem amar a Deus e ao próximo com o mesmo amor e na mesma intensidade, amar de todo o coração, de todas as suas forças (com todos os seus bens) e de todo o seu entendimento.
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Lukas Betekeneng
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