(Mc 1,40-45)
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esse relato de cura do leproso, o autor prega um termo-chave que revela o tipo de sociedade da época: o puro. Esse termo revela de modo inegavelmente a característica da mentalidade sociopolítica, econômica e cultural-religiosa, uma sociedade exclusivista e discriminatória camuflada atrás da “bandeira” da religião e de Deus. Os leprosos eram considerados mortos, pois vivem isolados fora da sociedade dos sãos, visto que sua presença tornava impuros para a vida da comunidade, religiosa e politicamente, considerada sagrada. Segundo o historiador, Flavio Josefo afirma que, Moisés tinha mandado afastar da cidade aqueles que foram atraídos a lepra. Como não tem possibilidade de ter contato com ninguém, por isso mesmo, são considerados mortos. Assim, a cura do leproso é equivalente, simbolicamente, a ressurreição.
A atitude profética de cura de Jesus denuncia essa mentalidade religiosa e política leprosa, e anuncia a chegada do Reino inclusivo da fraternidade de Deus, derrubando todo o muro da exclusão e da discriminação e reintegrando o ser humano-imagem-e-semelhança e filho excluído, na comunidade de vida salvífica. Assim, a verdadeira lepra, segundo esse autor, não consiste primeiramente no corpo enfermo dos leprosos, mas no comportamento de toda a sociedade, na mentalidade discriminatória e excludente das pessoas que práticam a injustiça social, a negação do direito de vida, a sonegação da liberdade dos filhos e filhas de Deus. Leprosos, são aqueles que praticam todo o tipo de discriminação.
Jesus de Marcos é, portanto, um novo líder para o novo tempo da graça que mostra a nova maneira de liderança que promove as mudanças radicais da mentalidade na convivência social e cultural-religiosa tanto quanto política e econômica. Um ser humano qualquer que crer em um Deus-amor e, ao mesmo tempo, pratica a discriminação, a injustiça social, a exclusão, a negação do direito dos outros, esse é o verdadeiro leproso. E assim, essa fé leprosa não serve nem vale para nada na vida neste mundo. Esse tipo de mentalidade leprosa (atitude discriminatória, corrupta e excludente) está bem presente nas nossas igrejas, na nossa sociedade atual, nas nossas vidas familiares, nas nossas comunidades religiosas carismáticas e, sobretudo, presente em cada um e cada uma de nós.
O autor também prega seis verbos principais no processo de cura do leproso: (o ver, o ouvir), o comover, o estender, tocar e dizer. Jesus viu um leproso se aproximando dele, ouvindo o seu pedido, e, então se comoveu, estendeu a mão e tocou nele e diz: eu quero. Esse último verbo é decisivo, pois revela e reafirma o desejo de Deus da vida que transforma a morte em vida na sua plenitude. Essa maneira de escrever na realidade o autor quer convocar seus leitores de mudar a sua mentalidade, de viver com os olhos e ouvidos bem atentos para ver as dores e ouvir os clamores das pessoas e se dispor a estender a mão, dando toque de cuidado, de acolhimento, toque de amor compassivo e misericordioso. É esse toque que dá a coragem, que reacende a chama do entusiasmo de vida e fé, toque terapêutico capaz de aliviar qualquer jugo da vida.
O Eliseu foi o profeta de Deus que cura através da água (cf. 2Rs 5,9-14). Mas Jesus é mais que Eliseu, é a própria água da vida que jorra do alto, e que sacia a sede e cura todas as feridas. O próprio Jesus tem declarado que é a água da vida e quem bebe dessa água não terá mais sede. Pelo contrário, se tornará a outra fonte de água viva que jorra pela vida inteira (cf. Jo 4,14). Assim, seria a vida e missão das igrejas cristas, seria a vida e missão de toda a humanidade.
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Lukas Betekeneng
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