Lukas Betekeneng
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
A SALVAÇÃO É TODA GRAÇA DE DEUS OFERECIDA E O FRUTO DO ESFORÇO TOTAL DO PRÓPRIO HOMEM
(Lc 13,22-30)
A |
salvação “já” está feita, mas “ainda não” está pronta e acabada, ainda está em contínua construção. Só crer (passivamente) em Jesus Cristo para obter a salvação, isso não basta, é preciso de sua “materialização”, preciso de práticas – de justiça, do direito, da liberdade responsabilidade e da caridade libertadora efetiva, que não são outra coisa senão a índole dessa fé do reino fraterno. A salvação não é somente o fruto da crença rezada (ou, orada), mas também, e até muito mais da fé vivida concretamente no dia a dia, com afinco: a perseverança na prática de justiça e do direito, da promoção da paz e da liberdade. A salvação é, contudo, uma via de mão dupla: de Deus e do ser humano. Você pode ir à missa todo o dia, rezar e ouvir a Palavra de Deus 2 ou 3 vezes por dia, e ainda pode, sobretudo, crer que depois de cumprir todo esse ritual então, sua salvação já está garantida. Mas essa falsa sensação psíquica é um engano psicológico e, portanto, não leva a ninguém a lugar nenhum e nem garante o ingresso para o reino De deus (v. 26). Não adianta mais nada bater naquela porta depois que ser fechada e nem vale a pena dizer: “nós comemos e bebemos em tua presença e tu ensinaste em nossas praças”.
O Jesus de Lucas, neste momento, se dirigindo rumo à meta: Jerusalém. É lá que é o lugar onde o reino de Deus se manifesta a sua plenitude (cf. 19.11). Nesse texto, o autor da comunidade lucana do Evangelho afirma a passagem do “antigo” povo de Deus para o “novo” (vv. 25-27). A Boa Nova de Cristo é rejeitada pelos judeus e, então, é oferecida aos “pagãos”, vindos de todas as partes do mundo e tomarão o lugar à mesa do festim nupcial do reino fraterno celestial (v.29). Assim, os judeus que pelo privilégio da revelação seriam os primeiros, serão os últimos, mas os “pagãos” serão os primeiros (v. 30; cf. também, Mt 2,1-12). Com isso, os judeus, segundo Lucas, perderão o seu direito de “primogenituridade” no reino de Deus.
A pergunta curiosa feita a Jesus nos chama a atenção: “São poucos os que se salvam”? Esse tipo de pergunta era o assunto comum dos debates entre os grupos religiosos judaicos. Conforme o pensamento teológico rabínico, baseado na profecia de Isaías (cf. Is 60,21), todo o povo de Israel tomaria parte do reino futuro, ao passo que para os grupos apocalípticos (alguns deles), uma pequena parte se salvaria. Jesus não entra no mérito da pergunta tipo casuística, mas a partir dela faz uma interpelação bem forte ao empenho: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão” (v. 24).
Mas o que Jesus lucano quer dizer com isso? Com esse apelo, Jesus assinala o desafio que ele vai encontrar pela frente: a dificuldade envolvida no seu seguimento, principalmente quando entrar em Jerusalém. Menciona, igualmente, sobre aqueles que tinham a ilusão de estar seguindo-o no seu caminho, porém mantinham um vago relacionamento com ele: comiam e bebiam com ele, ouviam suas palavras, mas sem nenhum espírito de comprometimento crístico e de companheirismo íntimo e nem aceitavam seus ensinamentos como Palavra de Deus que os interpela continuamente para a mudança de mentalidade na prática de vida cotidiana (cf. 8, 21).
A “dor e o ranger de dentes” (v.28) são a forma de Jesus lucano interpelar para aqueles que se mantém numa falsa consciência e ficam acomodados na apatia sem demonstrar o entusiasmo nem o sinal de mudança de vida. Lucas fecha seu texto com uma sentença, que sinaliza a possibilidade de sempre está aberta a esperança da salvação para todos: “Haverá últimos que serão primeiros e primeiros que serão últimos” (v.30). Assim, não há privilégio no reino de Deus e nem os afortunados, mas apenas a inversão de ordem da compreensão da salvação como ato beneplácito de Deus nos tempos finais.
________&&&________ BH. 25-10/2011
Lukas Betekeneng
terça-feira, 25 de outubro de 2011
A PROLIFERAÇÃO DA HIPOCRISIA NA IGRJA E NO MUNDO
(Rm 8,12-17; Lc 13,10-17)
P |
aulo de tarso testemunhou sua fé aos romanos, com toda a sua convicção, dizendo que o “Espírito divino se une ao espírito humano para nos atestar que somos filhos de Deus. Assim, afirma o Apóstolo dos “gentios”, se somos filhos, somos, igualmente, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rm 8,16-17). Isso significa que, tudo o que aconteceu na vida de Jesus de Nazaré, acontece – e vai continuar acontecendo – também conosco como cristãos e cristãs: o sofrimento, a mortificação, a ressurreição e glorificação. Essa afirmação revela a consequência necessária do seguimento (cf. Mc 8,34) e, ao mesmo tempo, o seu apelo aos discípulos e seguidores durante sua vida terrena: o projeto da construção de um mundo novo baseado na fraternidade, tendo o próprio Nazareno, o Cristo-irmão misericordioso como o primogênito de toda a humanidade (cf. Mt 23,8-12; 28,19-20; Jo 15,14-15). É um novo paradigma de vida que Jesus ter lançado como desafio para todos os cristãos, em todas as gerações, um mundo diferente, mundo onde todos têm a voz e a vez, mundo onde todos têm direito e liberdade, onde homem e mulher vivem lado a lado na harmonia e sem exclusão, buscando a unidade no amor solidário e na paz verdadeira como filhos e filhas do mesmo e único Deus Pai.
Nesse segundo relato lucano de cura evangélica (cf. 6,1-11; 14,1-6) nos mostra a determinação de Jesus desmascarando a cegueira hipócrita dos líderes religiosos de seu tempo. O centro da discussão é sobre, permitido ou não fazer o bem para com o próximo no dia do Senhor (o Sábado, para os judeus – que seria o domingo para os cristãos e sexta feira para o islã)? Para os líderes religiosos, o sábado foi conservado exclusivamente para o Senhor e nada mais. Portanto, se alguém fizesse alguma coisa no dia do Senhor cometeria o grave erro: a blasfêmia contra a Lei do Senhor do sábado, contra o Templo de Senhor onde os homens se reúnem em oração e adoração e, por fim, contra o próprio Senhor do céu e da terra. Enquanto que para Jesus, toda essa eloquência dos oficiais não passa de suas artimanhas, uma armadilha bem feita para poder curvar qualquer um diante do poder autoritário e explorador do qual os chefes religiosos (os fariseus e escribas) se fazem como seu detentor. O sábado, na compreensão de Jesus, foi feito para o ser humano e não o contrário (cf. Mc 2,27), portanto, os filhos de Deus são o senhor do sábado (cf. Mt 12,8), e assim, todo o dia é o dia em que se deve praticar o bem e não o contrário. A verdadeira blasfêmia, segundo Jesus nesse sentido, seria praticar o mau, por menor que seja, contra o seu irmão no dia do Senhor. Santificar o nome do Senhor Deus no dia de sábado é, exatamente isso, fazer o bem para com todos.
Mas Jesus prefere desmascarar a hipocrisia dos chefes de uma só vez em vez de prolongar a discussão inútil. Jesus sabe muito bem que os chefes têm resgatado seus animais no dia de sábado, além de ir rezar no templo como cumprimento da Lei. Por isso lançou uma pergunta bem irônica para desafiar suas inteligências espirituais, morais, culturais, políticas, econômicas e teológicas, como forma de calar-lhes a boca de vez, dizendo: “Quem de vocês não solta no sábado o seu boi ou seu asno do estábulo e não o leva a beber” (v. 15)? Ou, teria perguntado de outra maneira: qual dele o mais importante, socorrer o ser humano feito imagem e semelhança de Deus (cf Gn 1,26) ou preocupar com o boi e/ou o asno? É aqui que está o problema dos chefes espirituais e religiosos: a inversão de valores entre o ser humano (o alguém) e o ser animal (o algo). É aqui que se percebe a cegueira hipócrita dos líderes tiranos que se fazem passar de pastores.
Assim, está claro de que não há lugar nenhum e nem um outro ser qualquer neste planeta Terra que seja mais sagrado senão o coração humano onde reside o Espírito de Deus. Foi para este ser humano-imagem-e-semelhança que nele o Deus soprou o seu Espírito no jardim de delícia e, por fim, se encarnou em Cristo Jesus para salvá-lo das garras do pecado que provoca a morte, e não o boi e/ou asno e nem mesmo para o sábado.
Mas, parece que o problema não foi a questão de fazer o bem ou não no sábado como tal, mas porque o bem que Jesus tem feito foi para socorrer a mulher, e ainda doente, exatamente no dia de sábado, que na sociedade judaica paternalista a mulher é tratada mais como uma vaca leiteira que pessoa humana, faz parte dos pertencentes do varão junto com as crianças e coisas.
Para os chefes religiosos, a pergunta de Jesus foi uma provocação, um desafio monumental para a sua teologia da criação que ressalta a igualdade do direito sagrado e da dignidade entre o ser humano criado com o seu Deus criador (cf. Gn 1,26). Desta maneira que, Jesus quer recordar-lhes mais uma vez que exatamente no dia de sábado é que se pratica ainda mais o bem para com o próximo, assim como o Senhor Deus tem feito para com os antepassados (cf. 20,11; Dt 5,15). O sábado é o dia da criação, da salvação e da libertação, o dia de dar a vida, de levantar o estima, de devolver a dignidade e o direito e não de curvar o ser humano em nome da lei qualquer, de abandono, de desprezo, de discriminação, de opressão, de manipulação do direito, da justiça e da dignidade das pessoas.
Olhando para dentro de nossas vidas, da nossa comunidade-família, das nossas igrejas e da nossa instituição política, devemos, com humildade e vergonha, batendo no próprio peito bem forte, dizendo repetidamente essa frase: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa! Pois, a prática ideológica religiosa (espiritual e teológica) tanto quanto cultural, econômica e política contra mulher continua proliferando até neste pleno terceiro milênio. As mulheres ainda são tratadas como gente de segunda categoria, como fonte do pecado, como sexo frágil, como ajudante do marido, como procriadora dos filhos, etc.
________&&&________ BH. 24-10/2011.
Lukas Betekeneng
sábado, 22 de outubro de 2011
TUDO POR AMOR
Uma reflexão em forma de poesia: Por amor, é baseada nas leituras bíblica, principalmente de 1Cor 13, 1-13; Mt 22,34-40.
Lukas Betekeneng
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
LER OS SINAIS DOS TEMPOS É UMA EXIGÊNCIA DE VIDA CRISTÃ
(Lc 12,54-59)
H |
á duas parábolas neste pequeno texto de Lucas: os sinais do tempo (vv. 54-56) e a reconciliação (v. 58). Na primeira parábola, o Cristo lucano exige da multidão que o segue uma atitude de imediato da tomada de posição e decisão perante sinais-Jesus do novo tempo messiânico que está se manifestando no meio do povo. Assim, ele questiona a lentidão e a incapacidade de seus seguidores provocando-os, dizendo: “Sabeis interpretar o aspecto do céu e da terra. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente? Porque não julgais por vós mesmos o que é justo” (vv. 56-57)? E na segunda, exige-se uma postura mais reconciliadora, e um apelo ao espírito de bom senso, à sabedoria popular (cf. Pr 17,14) em prol da paz e harmonia para com todos. Por isso aconselha: “Deveis procurar resolver as desavenças com vossos adversários antes que o caso chegar ao tribunal. Assim, para evitar o sofrimento maior: “Senão ele te entregará ao juiz e, por fim, te jogará na cadeia. Eu te digo, daí, tu não sairás, enquanto não pagares o último centavo” (vv. 58-59). Para fazer tudo isso, é preciso de humildade e maturidade, preciso de coragem e equilíbrio psicoemocional e moral-espiritual. São essas pequenas atitudes, porém de grande efeitos, que estão faltando muito em nossas vidas do dia a dia.
Viver a vida cristã é ficar atento aos sinais dos tempos, reconhecer-se por dentro – as tendências do bem e do mal no próprio ser interior (cf. Rm 7,18-25), desenvolver o equilíbrio e a paciência e procurar ter sempre o bom senso na convivência relacional do dia a dia para com todos em cada espaço social. Isso, também significa crescer, amadurecer e progredir integralmente no caminho de Cristo, rumo a Deus.
Em cada manifestação de vida requer, de cada um de nós, uma atenção crítica, uma análise profunda da realidade à luz da Boa Nova, a consciência madura e o equilíbrio interior para a tomada de uma decisão justa e responsável. Assim, a vida cristã, segundo Lucas, é uma contínua tomada de posição e de decisão. Cada dia é um dia, com suas realidades e sua história. A história não se repete, ela continua a cada dia, pois a vida nunca para. Viver é crescer, amadurecer, progredir e equilibrar-se integralmente. Quem se deixar levar pelo tempo, perde a oportunidade da salvação, hoje, no aqui e agora do cotidiano.
Após dar as instruções aos discípulos, Jesus voltou sua atenção, agora para o público e o advertiu, criticando-o duramente e o chamou de hipócritas (v. 56). Parece que os seus seguidores estão ainda sonolentos, são apáticos e cegos demais, por isso ainda não conseguiram decifrar os sinais do tempo kairótico para torná-lo manifesto na vida concreta. Ainda não tomaram a consciência, a posição e decisão, ainda não desenvolverem suas capacidades e criatividades, pelo contrário, continuam vivendo em um espírito de melancolia, de entreguismo e/ou fatalismo. Para Jesus, os discípulos e seguidores precisam tomar a atitude de imediato antes que do reparável, pois é a última possibilidade. Através dessa parábola, o autor da comunidade lucana quer nos dizer que os cristãos todos devem escutar com atenção e pôr em prática o apelo crístico do mestre Nazareno, procurando promover a reconciliação fraterna como condição da reconciliação com Deus triuno. A vida cristã, ou reinventar “creativamente” com responsabilidade ou, morrer aos poucos. Para sobre viver, é preciso de coragem e “creatividade” para continuar reinventado sem medo para que a graça salvífica continue agindo neste mundo da humanidade. É necessário derrubar o medo do novo e implantar o novo modo de ser, de viver e agir neste novo mundo em mudança acelerada.
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BH. 20/10-2011
Lukas Betekeneng
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
RESPONSABILIDADE E VIGILÂNCIA PERMANENTE SÃO AS CARACTERÍSTICAS DO SER E VIVER DO DISCIPULADO CRÍSTICO
(Lc 12,39-48)
O |
tempo e a paciência, diz o novelista e moralista russo, Leon NikolaievitchTolstói (1828-1910), são dois eternos beligerantes - em nossa vida humana. Assim o ser humano precisa se posicionar entre o tempo e a paciência. É um desafio permanente para uma espera da chegada desprecavida do novíssimo, pois, uma vez que não se sabe a hora certa da chegada do Senhor, o homem precisa decidir: ou optar pelo tempo, ou, optar pela paciência, e o livre-arbítrio é o seu aliado para essa tomada de decisão. Mas essa espera do dia da graça não é uma espera passiva, pelo contrário, uma espera ativa, dinâmica e envolvente e que exige um estado de permanente vigilância, de paciência, de prudência e de responsabilidade. Se se optar pelo tempo para vencer a paciência, o homem perderá a graça do novíssimo, mas se do contrário, ganhará a recompensa da felicidade na hora da chegada do tempo novo kairótico (vv. 43- 44). É uma prova de fogo, um desafio monumental para o amor e a fé. A característica desse relato comparativo de Lucas – estado de prontidão, rins cingidos, sandálias nos pés, cajado na mão, tudo a bordo, trajado para servir de modo apressado, de lâmpadas acessas e pronto para partir – nos parece que o autor está fazendo uma recordação do Êxodo (cf. Êx 12,11). Assim a vida cristã, nesse estado de cuidado perseverante, é uma eterna espera ativa, vigilante e constante por um novo êxodo. Isso, porque a vida do discipulado crístico sempre voltada para o futuro esperançoso da salvação plena e eterna, quando Deus se torna tudo em todos (cf. 1Cor 15,28).
A vigilância, segundo o autor, não tem hora. Mesmo sem saber a hora do retorno do Senhor, o vigia fidedigno deve continuar firmes e sempre em prontidão no seu posto. Por isso, felizes os que se encontram agindo assim quando chegar a hora do Senhor (v. 43), pois esse servo vigilante receberá sua recompensa, será constituído como gerente dos seus bens (v. 44).
Mas por que Jesus exige tanto da responsabilidade dos seus seguidores e discípulos? A responsabilidade não é outra coisa senão um conjunto de valores: éticos, políticos, moral social e cultural-afetivo e religioso. É uma atitude e comportamento ético e moral crístico que envolve uma gama de relações, tanto vertical (em relação com Deus) quanto horizontal (com todas as pessoas e/ou grupos em âmbitos diversificados) no seu exercitar dos deveres e compromissos. O que é viver vigilante e agir responsável? É conviver com sabedoria serena, calma e humilde, procurando com constância e perseverança a vontade de Deus a realizar, não como dever obrigatório (religião do dever escravista e serviçal), mas como ato espontâneo da maturidade do querer responder o amor gratuito do Senhor (religião do querer libertador filial). Lembramos, aqui, as letras musicais do cantor Robert Carlos, cujo título: É preciso saber viver:
Quem espera que a vida
seja feita de ilusão
Pode até ficar maluco
ou viver na solidão
É preciso ter cuidado
prá mais tarde não sofrer
É preciso saber viver...
seja feita de ilusão
Pode até ficar maluco
ou viver na solidão
É preciso ter cuidado
prá mais tarde não sofrer
É preciso saber viver...
Toda pedra no caminho
você pode retirar
Numa flor que tem espinhos
você pode se arranhar
Se o bem e o mau existem
você pode escolher
É preciso saber viver...
você pode retirar
Numa flor que tem espinhos
você pode se arranhar
Se o bem e o mau existem
você pode escolher
É preciso saber viver...
_________&&&_________ BH. 18/10-2011
Lukas Betekeneng
O AMOR À RIQUEZA CONDUZ À IDOLATRIA
(Lc 12,13-21)
A ganância do homem destrói a sua própria vida a dos demais.
O ser humano ganancioso é aquele que se deixa possuír pelas coisas.
A |
riqueza como tal pode destruir o nosso próprio lar? Para que serve, afinal, os bens neste mundo? De que maneira o homem pode resgatar a posse de seus bens? É possível gerenciar os bens sem apegá-los? O que significa essa parábola para nossa vida hoje?
Já temos dito na nossa reflexão anterior que o problema da abundância de riqueza não consiste, propriamente, em ter ou não ter, mas no seu endeusamento ou, no apego a ela (cf. reflexão do dia 11/10-2011). Em outras palavras, a ganância insaciável de um homem não é outra coisa senão o triste fenômeno que apressa a autodestruição e a destruição das demais vidas. Como o erro que comete a ambição em relação ao poder, da mesma forma que a ganância em relação à riqueza: o ímpeto da acumulação dos bens como objeto do prazer tanto quanto como garantia da própria felicidade de vida existencial. Há sempre pessoas que se alimentam continuamente dessa ilusão e que as leva a lutar de todas as formas para acumulá-los para si, a ponto de tirar a vida de sua desavença. O ser humano ganancioso sempre é possuído, dominado e consumido pelos bens.
Para Lucas, os discípulos e seguidores de Jesus (os cristãos) devem se livrar do apego aos bens. Contudo, nesse julgamento de Jesus lucano, não se trata propriamente de renúncia maniqueísta ou estóica. Mesmo porque, o grupo de Jesus sempre provido de bens materiais suficiente para suas necessidades (cf. 8,3). O homem tolo, segundo o autor, é aquele que se alimenta da ilusão dos bens e que põe sua confiança em um falso fundamento como garantia segura da salvação de sua existência (vv. 20-21).
A mentalidade egoísta do proprietário assinalada pelo autor nesse texto-parábola nos chama a atenção, como: minha colheita, os meus celeiros, os meus bens, etc. (vv. 17-19). Os bens do mundo são doados por Deus para ser usufruídos, distribuídos e compartilhados por todos de maneira justa e equilibrada e não para ser acumulados por alguém para seu proveito próprio. A prosperidade que deveria ser a bênção de Deus para a felicidade do homem, o seu mau uso, pode se tornar armadilha perigosa que conduz, não somente à idolatria, mas principalmente à autodestruição e a do próximo e dos demais. O homem que ocupa todo o espaço do seu coração com os bens materiais, não consegue mais ver Deus nas pessoas e nem as pessoas em Deus, pois, como diz Mateus: “onde está o seu tesouro aí estará também seu coração” (Mt 6,21).
A parábola de Jesus é para nos relembrar que o maior tesouro de Deus neste mundo é a vida dos homens e mulheres criados à sua própria imagem e semelhança e não os bens materiais. A riqueza do mundo é o bem público ou social, a dádiva de Deus para o uso de todos. Por isso a única maneira de resgatar a posse desses bens é fazê-los circular, compartilhá-los para com os pobres e necessitados (cf. 12,33-34). Os cristãos devem crer firmemente de que “não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (cf. Mt 4,4). Isso não significa o desprezo da riqueza, mas de formar a própria mentalidade cada vez mais simples como sinal do máximo grau de um homem sábio, maduro e equilibrado, psicoemocional, moral e espiritualmente. A grandeza (ou, melhor, a beleza da alma) ideal de um homem não está na quantidade da riqueza que possui, mas, como diz o novelista e filósofo alemão, Johann Wolfang von Goethe (1749-1832), na sua simplicidade calma e serena.
Segredo de ser feliz...
Para viver sempre na felicidade é preciso de algo bem simples:
Um bom dia bem animado ao acordar da primeira manhã..., um oi empático para com alguém no primeiro encontro..., um olhar carinhoso para com todos..., um abraço caloroso e apaixonado..., um aperto de mão bem amigável..., um beijo demorado..., uma piada construtiva..., uma brincadeira sadia...
Não vale a pena juntar todas as forças do mundo para poder correr atrás das coisas de amanhã, mas cultivar o presente com o entusiasmo e empatia, sempre estar confiante e aberto a acolher toda graça que está por vir. Viver cada instante com muito amor e alegria profunda, ser sempre sereno, afetuoso, transparente, amigável, justo e verdadeiro; procura conservar a dignidade de vida, própria e a dos demais. Lute para ser sempre amigo do peito para com todos, é tudo que importa.
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BH. 16/10-2011
Lukas Betekeneng
domingo, 16 de outubro de 2011
A FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE: O CAMINHO DE UMA VIDA RESPONSÁVEL, JUSTA E EQUILIBRADA
S |
(Is 45,4-6; 1Ts 1,1-5; Mt 22,15-22)
empre há pessoas que optam pelo caminho de vida “mais fácil”, seguindo o seu próprio gosto psíquico que procurar equilibrar a vontade de Deus e o desejo humano. Sempre é mais fácil manipular Deus e suas Palavras-Vida em benefício do bel-prazer do homem que perseverar na paciência, na esperança e na fé em busca do fazer o bem salvífico para o próximo em nome de Deus. Sempre é mais fácil manipular o direito, a liberdade e a justiça de Deus para justificar as práticas da injustiça dos homens egoístas, para defender a libertinagem das pessoas irresponsáveis e para cobrir a atitude de negação escrupulosa dos direitos divinos e humanos dos semelhantes em vista do proveito próprio. Assim, foi o modo que o ser humano optou e continua optando para viver sua vida como imagem e semelhança de Deus no decorrer de sua história. Mas, por que o ser humano procurar sempre o lucro próprio a custo do prejuízo dos demais? Por que ele sempre tem mania de querer receber tudo de graça sem precisar de um mínimo esforço de sua parte? Por que gosta tanto de fingir da responsabilidade em vez de assumi-la? Por que ele sempre se inclina mais para fazer o mal que o bem? De fato a violência e a maldade não só permanecem desde o primordial, mas também se endurecem e se multiplicam a cada dia nas nossas instituições: sociopolíticas, religiosas, culturais, econômicas e familiares. Realmente o ser humano tem mais prazer de optar passar pela porta bem larga, mesmo sabendo o risco da perdição que a estreita (cf. 7,13). Parece que o ser humano não deu conta de controlar-se, de dominar sua própria animalidade e de superar suas fraquezas e seus impulsos egocêntricos. Não conseguiu fazer o caminho de volta: a humanização do próprio ser como homem-e-mulher-imagem-e-semelhança de Deus. Ou, melhor dizer, o ser humano ainda não conseguiu tornar-se ser humano.
A tarefa principal do ser humano, como humano divinizado e o divino humanizado, é tornar-se um ser misericordioso como seu criador-Deus (Lc 6,36). Isto é, tornar-se cada vez mais virtuoso, mais perseverante, mais amável, mais compreensivo, mais dialogal, mais justo, tolerante e solidário. Somente assim que ele será capaz de procurar amar os homens (o próximo) em Deus e amar a Deus nos homens. O primeiro é amar pelo que a pessoa é, e não pelo que ela tem, respeitando suas diferenças como um ser único e irrepetível: sua maneira de ser, de viver e de relacionar. E, o segundo, é buscar em todas as pessoas (e de toda a criação) aquilo que tem a característica própria de Deus, como as qualidades humanas salvíficas: o amor solidário, o espírito de tolerância, de respeito, de serenidade, de caridade libertadora, de humildade, de reconciliação e inclusão, etc.. Ou seja, procurar os elementos construtivos, aqueles que nos enriquecem, nos unem, nos fortalecem e que nos dão a vida, nos humanizam e edificam, que nos causam a felicidade profunda e duradoura. Para chegar a esse ponto, o caminho é longo e árduo e até, talvez, o mais difícil, mas isso não significa impossível. É preciso de paciência, de confiança, de esperança na perseverança: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (24,13).
Jesus tem demonstrado tudo isso na sua discussão com seus adversários: os fariseus e herodianos (22,15-22) em uma síntese bem curta: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (v.21). Para o Nazareno, a questão não consiste na liceidade ou iliceidade do pagamento do imposto à autoridade em gestão, mas, primeiramente, na compreensão justa e equilibrada da realidade vivida. E, a segunda, na maturação da consciência, no espírito de bom senso e, acima de tudo, na maturidade-responsabilidade, na conveniência, consistência e na atitude de prudência. É nessa perspectiva que o Apóstolo Paulo estimula o povo tessalonicense relembrando de sua relutância no caminho do bem, quando diz: “Recordamos sem cessar a atuação da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 1,3).
Para Jesus, a questão levantada como armadilha pelos adversários já está mais que claro: dá à autoridade em gestão o que a ela compete e devolve a Deus o que lhe é devido (v. 21). Trata-se do reconhecimento prático da dominação do poder tirano e o dever de pagamento de impostos como sua consequência lógica. Portanto, não se trata aqui de simples ato de justiça, mas de lógica consequencial de uma realidade sociopolítica, econômica e cultural/religiosa, de um lado que exige, por outro, um agir mais prudente e consistente, maduro e responsável. O bom senso e o equilíbrio psicoemocional e moral-espiritual são a chave de ouro nesse contexto. Esse é o agir preventivo em vista do bem-estar de vida na sua integralidade. O que adianta querer dominar o mundo enquanto correndo o risco de perder tudo que se tem na mão, inclusive a perda da própria vida (cf. Mc 8,36).
Os cristãos todos são chamados para promover o diálogo maduro e transparente como sua forma cristica de fazer política preventiva, evitando, dessa forma, a violência de todos os sentidos e níveis. Pois acredita que Deus sempre está pronto para agir de sua maneira, até capaz de transformar o inimigo em instrumento de salvação-libertação para com seu povo (cf. Is 45,4-6). Seja coerente e tenha o bom senso, mantenha sempre viva a chama da fé e esperança e não cesse de promover a caridade libertadora para com todos.
_________&&&_________ BH. 14/10-2011
Lukas Betekeneng
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
JESUS DE NAZARÉ É A “EROSFANIA” DE DEUS EM PESSOA OPERANDO NO MUNDO
(Jo 2,1-11)
H |
á três modelos básicos (arquétipo) da experiência do amor de Deus que o povo de Israel tem feito, em três etapas, no decorrer de sua história: o amor agápico (o paternal/maternal ou, o amor criador), o amor erótico[1] (o amado/amante ou, o amor sustentador) e o amor philial (o amigo/irmão ou, o amor apoiador). A primeira experiência foi, principalmente, nos tempos dos patriarcas; a segunda foi nos tempos de profetas; e, por fim, a terceira, no tempo de Jesus. Assim, como o número três, na tradição bíblica, representa a plenitude, Jesus de Nazaré seria essa plenitude messiânica em pessoa que Deus tem prometido ao povo de Israel. Ou seja, toda a promessa messiânica de Deus para com o Israel (cf. Gn 3,15; 12,3; 18,8; 17,9; 22,18; 28,14; 49,10; Nm 25,17; 2Sm 7,12-16; Sl 89,3-4; Is 7,14; 11,1; Mq 5,2) se realiza em Jesus de Nazaré (cf. Mc 1,1-8; Mt 1,1-25; Lc 2,1-20; Jo 1,1-18; 7,42; At 3,25; Gl 4,4; Ap 12,5). Em outras palavras, Jesus de Nazaré é a promessa messiânica de Deus em pessoa agindo no mundo.
O simbolismo e seus significados. O Oriente ainda é um mundo diferenciado repleto de simbolismo e misticismo. Assim, em todos os textos bíblicos estão cheios de simbolismo cultural, próprio do mundo oriental. Por isso é difícil de decifrar com exatidão os significados de suas figuras representativas e expressões, pois são enigmáticas, rico de significados e muito dinâmicas, no sentido de em cada figura e/ou expressão usada pode ter mais de um significado, conforme os contextos vividos. Assim, neste texto de João também está repleto dessas figuras e expressões culturais. Veremos:
O casamento (bodas) representa a “erosfania”, isto é, a manifestação do amor de Deus para com o Israel (com a humanidade). Em outras palavras, as bodas de Caná simbolizam o caso amoroso entre a Divindade criador (o amado - Jesus) e a Humanidade criada (a amante – o Israel renovado - Maria). É o momento em que a graça da Criação e da Encarnação (o Agápico e o Erótico) se fundem e formam uma nova e única realidade kairótica, um tempo da graça, um novo amanhecer messiânico da fraternidade universal (cf. Gal 4.4; Mt 23,8; Jo 15,13.14.15).
Falta vinho. O vinho é símbolo da paixão amorosa e da alegria profunda e duradoura. A Mãe de Jesus sinaliza o seu filho sobre a precariedade de vinho na festa. Esse gesto profético de Maria significa que o povo de Israel está em perigo de perder o amor de Deus e da alegria de viver como povo eleito. O vinho representa, também, o cuidado de uma vida hidratada, salubre, do ponto de vista medicinal. Falta vinho significa, portanto, a vida – espiritual e afetiva, moral e material – está desidratada, insalubre, descuidada e corrompida.
A transformação de água em vinho simboliza a passagem do antigo para o novo tempo; da promessa profética à realização messiânica (do antigo povo de Deus para o novo). A transformação da infantilidade do velho homem adâmico em maturidade do novo homem crístico. Significa que a Aliança mosaica é resgatada, enriquecida, transformada, revigorada e superada pela Aliança jesuânica. A forma passiva (v. 3) da transformação de água em vinho assinala, na realidade, a atuação da força Divina, o poder criador de Deus no agir do Enviado.
A abundância do vinho de alta qualidade no banquete nupcial representa a garantia da felicidade de uma vida próspera, vista como bênção de Deus derramada sobre o labor humano, a graça da fartura após uma longa jornada e penosa de trabalho no solo (cf. Sl 126,5.6). É o sinal da realização da profecia messiânica (cf. Am 9,13-15; Jl 4,13; Jr 31,12-13; Gn 49,11). Núpcias, prosperidade e banquete são ricos de significados teológicos, por isso mesmo que, na tradição bíblica, tratados com propriedade como temas messiânicos (cf. Is 54,4-8; 62,4-5). A prosperidade, em si, não é nem bom nem mau. Ela não se pode ser enquadrada em nenhum adjetivo conforme o gosto psicológico de uma determinada pessoa. Ela é simplesmente a Dádiva divina dada como alimento para garantir a vida existencial, é a graça de Deus, o fruto do dom de trabalho. O problema da riqueza consiste, porém, no seu uso abusivo, no seu endeusamento, na acumulação para o bel-prazer a custo do sofrimento dos outros e dos demais. A prosperidade é o símbolo da qualidade de uma vida nutrida.
Seis talhas de pedra para o ritual de purificação onde as águas são transformadas em vinho simbolizam semanas de recriação (ou, de transformação, de re-nova-ação – renovar a ação - renovação) da humanidade (recriação do mundo) em Jesus Cristo, segundo a teologia joanina. O mundo é recriado em Jesus e com Jesus.
As palavras-chave: guardar. Lembra-se a ironia de Natanael contra Jesus: “De Nazaré pode sair algo de bom” (Jo 1,46)? Isso porque a Galileia foi acusado de paganismo por causa de seu espírito dinâmico e aberto, porque tem mais liberdade e mais dinâmico de pensar e interpretar a lei de Moisés do que a Judeia, que tende mais para o conservadorismo estéril. Aqui está a resposta dada aos adversários de Jesus através da boca do mestre-sala: “Todo o mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora” (v.10)! Ou seja, é de Nazaré da Galileia que se guarda (ou, se conserva) a qualidade do mandamento do amor de Deus, e não da Judeia. Esse reconhecimento assinala a ação salvífica de Deus. Isto é, Deus sempre exalta tudo aquilo que foi rebaixado, discriminado, desprezado (o rebaixamento vs a exaltação; a mortificação vs a ressurreição; a humilhação vs a glorificação). A palavra Nazaré significa, exatamente, o guardar. É isso mesmo, Maria e Jesus de Nazaré são aqueles que guardam (fidelidade) e conservam com maior criatividade na liberdade responsável da qualidade do amor de Deus até o momento presente. Maria e Jesus, nesse episódio, representam o modelo de fé, o Israel renovado (a nova humanidade). O noivo é o próprio Jesus de Nazaré. Sua fidelidade ao amor de Deus e criatividade na liberdade responsável de interpretar a lei é reconhecida e exaltada pela voz do mestre-sala. Esse reconhecimento que vai ser recapitulado na glória da cruz, na voz do centurião: “Realmente este homem era um justo” (cf. Lc 23,47).
Outra palavra-chave: a hora de Jesus joanino. É diferente de Lucas que fala do hoje da salvação, o autor da comunidade joanina fala da hora de Jesus. Mas o que Jesus quer dizer com essa frase: “minha hora ainda não chegou”? Talvez para poder entender a hora de Jesus joanino, seria bom voltar às palavras de promessa anterior: “Coisas maiores verás (1,50)”. Com isso, Jesus quis dizer que o episódio de Caná foi apenas um sinal e não a obra redentora que vai ser zelado com seu sangue na cruz. Ou seja, a hora do poder do amor de Deus vai ser manifestada de forma gloriosa na cruz, quando Jesus diz: “Está consumado” (19, 30). Essa é a hora em Jesus demonstra o pleno cumprimento do seu amor ao Pai, doando sua própria vida até à morte na cruz como resgate de vida dos seus amigos e irmãos (15,13).
O papel de Maria nas bodas de Caná. Através de sua palavra de fé e confiança profética: “Fazei o que ele vos disser” (v. 5), ela abriu uma ponta do véu da glória do Filho, conduz a fé dos discípulos ao Guru, orientou a confiança do povo a Jesus e inaugurou a nova maneira de ser fiel ao amor de Deus que se revela em Jesus Cristo. Com sua palavra de plena confiança, deu o pontapé inicial da vida pública do Filho. Assim, Jesus confirma essa iniciativa fundadora da Mãe, abrindo o sinal do novo caminho da vida e verdade de fé a seguir (o fiel-modelo). Isso é apenas um sinal, ainda têm muitos sinais maiores a serem realizados, portanto, não é a obra, propriamente dita, que ele vai realizar durante sua vida terrena. Isso quer dizer que o papel de Maria, nesse episódio inaugural, está intimamente relacionado com a hora de Jesus. Observa-se que João fala da Mãe de Jesus só duas vezes no seu Evangelho, uma nesse episódio da “semana inaugural” em Caná e, outra, na recapitulação da glória do amor de Deus no pé da cruz (19,25).
A confiança maternal de Maria forneceu ao povo o sinal de fé em Jesus Cristo. Ela é a fiel modelo, a discípula-mãe, a mulher intercessora, o exemplo de solidariedade. Ela é o caminho necessário de Deus para a humanidade e seu Filho Jesus é o caminho, a verdade e a vida da humanidade para Deus. A glorificação de Jesus na cruz zela a plena conformidade de sua vida com a vontade do Pai.
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BH. 11/10-2011
Lukas Betekeneng
[1] Para os mestres (e os sábios) espirituais orientais, o místico e o erótico são duas faces da mesma realidade. Dizem que Deus é o Erótico (o Mistério, o Espírito) que seduz e atrai, que cativa e provoca, que convida e aquece, que chama continuamente ao encontro, ao eterno enamoramento; e o ser humano é o corpo desse Mistério (o místico) presente no mundo. Ele é o caminho, a via de entrada para o Mistério (Jo12,45; 14,5). Por isso a erotização do Eros é a vulgarização do Mistério divino, a agressão contra a Divindade, a comercialização do Sagrado.
sábado, 8 de outubro de 2011
MUITOS SÃO CHAMADOS, MAS POUCOS SÃO ESCOLHIDOS
(Mt 22,1-14)
Q |
ual é o significado dessa máxima tradicional que o autor da comunidade mateana aproveitou para concluir seu relato-parábola do reino de Deus (v.14)? O que o autor quer nos dizer com essa parábola? Quem é esse sujeito que foi para a festa nupcial, mas depois foi preso e jogado para fora, acusado de não ter vestido os “trajes” oficiais de cerimônia? Mas qual, afinal, o significa dessa simbologia dos trajes nessa parábola? Será que Deus de Israel, chamado de Deus de nossos pais, amoroso, compassivo e misericordioso tomará a atitude tão cruel contra sua própria imagem e semelhança? Será que o reino de Deus não foi mesmo preparado para os bons e os maus (v.10)? Então, como é possível que o povo de Israel, ao qual Deus-Amor havia declarado promessas, fosse excluído do reino salvífico?
É precisa, antes de tudo, ter muito cuidado na interpretação dessa parábola para não comprometer a imagem amorosa, compassiva e misericordiosa de Deus. Mesmo porque, a parábola (como alegoria e metáfora) é uma forma cultural aproximativa adotada pelos autores sacros para falar da ação de Deus e do seu reino, mas não os explica, somente sugere e não os esclarece. É um jeito popular de imaginar como seria o reino (que é um termo político, assimilado pelos autores bíblicos) que está por chegar.
A parábola mateana colocada nos lábios de Jesus queria, realmente, sublinhar a responsabilidade dos primeiros (os rígidos observadores da lei mosaica: os escribas, fariseus e sumos sacerdotes, etc.) que se auto-excluíram (por não ter acreditado no anúncio de Jesus) do reino salvífico (ao recusar o convite do festim nupcial), ao passo que o povo simples e marginalizado (os segundos: os pequenos abandonados e explorados, manipulados, oprimidos e excluídos da sociedade como as mulheres e crianças, as prostitutas, os “pagãos” e cobradores de impostos, etc.) terem acolhido a mensagem salvífica de Jesus e acreditado no seu anúncio do reino fraterno de Deus. Realmente o anúncio de Jesus provoca no meio do povo, a tomada de posições: pró e contra. Essa situação também no tempo apostólico. Quando a Igreja começou o seu anúncio provocou, igualmente, as reações diversas; haviam grupos que resistiam do anúncio mas, haviam também outros que acolhiam e faziam parte da comunidade de fé. Essa realidade de pró e contra também continua até os dias de hoje, de uma e/ou de outra forma. Essa realidade era tida como grande problema que provoca rixas até mortes.
Se se observamos com mais de perto, percebemos que a característica dessa parábola do banquete nupcial tem muito a ver com as parábolas anteriores como a dos vinhateiros, em 21,33-43 e da rede, em 13,47-49. Devemos lembrar sempre que os adversários de Mateus são os judaisantes. Nessa parábola, os judeus são os convidados de honra para o festim por causa de seu vínculo histórico com os patriarcas, profetas e com Jesus de Nazaré, O cristo da fé (cf. Rm 9,1), mas eles rejeitaram o convite. Dessa forma se auto-excluíram previamente do festim nupcial. Enquanto que os últimos chamados: os cobradores de impostos, as prostitutas, as mulheres e crianças e os “pagãos” tendo respondido de maneira positiva ao convite do festim nupcial, começaram a participar do banquete (participar da comunidade cristã), ou seja, começaram a fazer parte do núcleo do novo povo eleito de Deus.
Mas devemos lembrar que, ser prostituta ou coletor de impostos e/ou pagã, não é garantia de vida salvífica, nem aqui na terra e nem no céu, da mesma forma, não é ser sumo sacerdote ou fariseu e/ou escriba. O mais importante de tudo isso é acolher o convite de Cristo para o festim celeste e viver e fazer de acordo com ele. Assim, quando o banquete começar e se inicia a lista de chamada, estamos prontos para entrar e fazer parte da festa de vida.
O significado da máxima tradicional que o autor usou na conclusão do seu relato-parábola, não se sabe exatamente em que contexto da tradição que ela foi inserida. Contudo, nesse texto-parábola torna mais claro para nós a intenção do autor ao adotar essa máxima na conclusão de sua mensagem: “todos, sem exceção, são chamados para participar do banquete nupcial no Reino de Deus, mas são poucos que correspondem o chamado”. Por isso, se diz: “Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos” (v.14). Com essa conclusão o autor da comunidade mateana quer reafirmar sua idéia na parábola anterior (cf. 21,33-43) de que o cristianismo, a partir de agora é o novo povo eleito de Deus. Portanto, não foi Deus quem excluiu Israel, mas sua própria postura, sua atitude de rejeição ao convite do Reino, que comporta, também, a auto-exclusão. Assim, o destino final dos homens (dos seres humanos), para o autor, consiste na livre tomada de posição diante do convite último do festim nupcial, portanto, definitivo de Deus que se constrói passo a passo no decorrer da vida nesta terra.
Os trajes do festim nupcial que o autor usa nessa parábola prefiguram a prática de justiça, de direito, de caridade e de liberdade que são fundamentais na vida de fé do judaísmo. Assim, a vida, a nossa vida neste mundo será sempre uma festa quando há apoio contínuo e recíproco de todos. O sujeito que foi tirado do banquete por não ter os trajes da cerimônia é aquele que acolhe o anúncio, todavia não viveu de acordo, isto é, não pratica a justiça, a liberdade, a caridade e o direito.
O reino salvífico de Deus é prefigurado pelos profetas em uma festa (cf. Is 25,6-12), está intimamente vinculado à missão do Filho de Deus e ao acolhimento ativo de sua pessoa e do seu Evangelho. Assim, fica claro que não é na força da lei e na sua rígida observação que traz a salvação, mas na fé em Jesus de Nazaré, o Cristo ressuscitado, imprimida na prática do fazer o bem: a vivência da justiça social, da liberdade responsável, da caridade libertadora e do direito de cidadania. Ou seja, um verdadeiro entendimento da lei envolve, necessariamente, o agir segundo a lei (v.11). Não é na ortodoxia estéril da lei que salva, mas na sua ortopraxia fértil do bem: da justiça, do direito, da liberdade e da caridade humanizadora, portanto, salvífica.
Assim também a vocação cristã, por si mesmo, não comporta a salvação final e nem mesmo para os cristãos uma garantia mágica da participação no reino de Deus. É necessário, conclui o autor, a perseverança na prática do bem de justiça, do direito, da liberdade e caridade salvífica (vv.11-14).
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BH. 08-10-2011
Lukas Betekeneng
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
A BONDADE DE UM AMIGO FORTALECE A FÉ NA GRAÇA INCONDICIONAL DO DEUS-AMOR
(Lc 11,5-13)
A |
través do relato, aparece-nos o “chão” da realidade (o contexto) do nosso texto. Parece que a situação da vida de fé, de esperança e confiança na comunidade lucana está dando um sinal de enfraquecimento, de frustração. Há alguns da comunidade têm questionado a bondade de Deus diante dos desafios (questionado a eficácia das suas orações), têm queixado de que Deus não tem atendido suas preces. Há também tendência do imediatismo que parece está dominando, cada vez mais, a mentalidade das pessoas na comunidade de fé. Para o autor, as pessoas devem saber que a ação de Deus (seu método de fazer o bem) não é a mesma que a dos homens. Parece também que alguns dos discípulos estão perdendo a confiança e paciência, e isso não é o bom sinal para uma vida mais sólida, mais alegre, mais feliz, mais animada e esperançosa. A vida sem a esperança e confiança é morta. É com a força de esperança e confiança que nos faz viver. Detectando essa realidade de desandamento de fé e esperança, o Jesus de Lucas precisa tomar uma atitude mais prática, usando a experiência do dia a dia da comunidade para resgatar e fortalecer a fé, para reacender a chama da confiança e esperança em Deus e, assim a vida pode continuar caminhando.
O autor da comunidade lucana do Evangelho aproveitou, desta vez, o clima de convivência fraterna do dia a dia entre os bons amigos para fortalecer a fé dos seus membros em Deus-Amor quando se dirigem na oração. Ou seja, para reavivar o ânimo e o entusiasmo, para revigorar a vida de oração, pessoal e comunitária. Se um amigo, por simples ser amigo, é capaz de se prontificar a fazer um favor em qualquer hora do dia para com seu amigo, o Deus-Amor-compaixão e mericordioso é muito mais disponível ainda para com seu povo, criado à sua própria imagem e semelhança. Só precisa de paciência e confiança, precisa manter viva a chama da fé e esperança. Esse ambiente de hospitalidade fraterna entre amigos que o autor adotou na sua parábola para falar do amor de Deus para com seu povo é muito próprio do Oriente, que é algo muito sagrado para aquela cultura. Por ser tão sagrada a amizade, por isso os orientais raramente têm medo de apostar no investimento da convivência de amizade. Para eles toda a vida é a vida de amizade (amor, integridade, zelo, afeto, doação e empatia - amizade) que é a propriedade de Deus. Eles vivem usando a maior parte do seu tempo, seu espaço e seus bens para cultivar a amizade, pois acreditam que a amizade é a própria vida de Deus compartilhada e investida na vida da humanidade e a de toda criatura.
Assim, a amizade oriental entre amigos não conhece nem a hora nem o dia, não se limita nem no tempo nem no espaço. Se o ser humano limitado capaz de ser dessa forma para com o outro ser humano, o Deus-Amor-compassivo e misericordioso é muito mais que isso, ele não tem nem a hora nem o dia para amar o seu povo, não tem programação para demonstrar sua graça; todo tempo é o tempo de Deus, o tempo de amar e ser amado, tempo de fazer o bem.
Ao distribuir a graça, Deus não pode nem como fazer sozinho diretamente a alguém, ele precisa de nós homens e mulheres da humanidade. Precisa de nossos ouvidos, de nossos olhos, de nossas mãos, de nossos corações e sentimentos, precisa de nossos pés, precisa de tudo o que somos e temos para fazer-lhe transparecer na prática da vivência solidária, pois ele não tem o corpo como nós o temos, nem as mãos e nem os ouvidos. Pois, ao criá-lo à sua imagem e semelhança no jardim de delícia da vida, Deus tem doado todo o seu ser para os homens (o ser humano), para que nós, homens e mulheres, usarmos de tudo o que recebemos dele para fazer o bem, com ele, nele e em nome dele, para a glória de seu nome e para o nosso bem, também para o bem do próximo e o dos demais. Assim, fica claro que, quando se faz a maldade qualquer, por menor que seja, contra o seu amigo e/ou sua amiga, além do nome de Deus é agredido, desacreditado e profanado, é também o próprio nome e credibilidade estão vulgarizados.
Mais um outro ponto importante que aparece nesse texto e que merece nossa atenção. O autor usa, além do exemplo de atitude cordial do amor fraterno, também a experiência do amor paterno como verdadeira parábola para convencer os membros de sua comunidade em relação a generosidade ilimitada de Deu, o seu profundo amor mesurado (afável) que não se desmente.
Agora, o Jesus de Lucas vai nos revelar qual é a maior graça que se deve pedir na oração: o Dom do Espírito Santo para nos ajudar no discernimento da vida (v.13). Somente dessa maneira que se compreende a oração como uma comunicação saudável e madura, íntima de dois amigos que se conhecem, se amam e se respeitam, e não como uma fórmula mágica (ou, de feitiço) para dobrar Deus ao nosso querer humano. A oração é, portanto, um diálogo íntimo e aberto, transparente, maduro e criativo entre dois amigos, humano e divino, é uma total abertura ao amor pleno de Deus, à liberdade criadora que nasce e cresce na sua fonte inesgotável da vida: no dom do Espírito Santo.
Percebe-se que o autor da comunidade lucana dos Atos, confirma esse tripé: a oração, o dom do Espírito Santo e o empenho dos homens para a liberdade criadora (Cr. At 1,14; 2,1-4; 4,31; 13,2-3). Não basta rezar, é também precisa ser fiel à oração, precisa confiar no dom do Espírito Santo e discernir com afinco para que tudo aconteça. Nada adianta gritar: “Senhor”, “Senhor”, sem escutar o que Deus tem a nos dizer e fazer o que nos pedir (cf. Lc 6,46-49). Deus não faz nada – sozinho diretamente – para nós, mas ele nos acompanha tudo, em todos os tempos e lugares, em todas as situações de vida, ele ilumina com a luz do seu amor, nos inspira e motiva para ser bom e fazer o bem. É na bondade e benignidade do ser e viver que se revela e fortalece a fé no Deus-Amor-compassivo e misericordioso.
Que a intenção da oração não é para curvar Deus aos nossos desejos, e nem como suplemento cômodo perante fracassos e frustrações da vida existencial, e nem mesmo como fórmula mágica (ou feitiço), mas é uma abertura total ao amor incondicional de Deus, um diálogo íntimo, maduro e sadio da humanidade com Divindade. Seguir a Cristo é deixar a vida carregada pelo seu Espírito, ser bom, como ele é bom, para fazer somente o bem. Seja bom como Pai celeste é Bom para com todos. Orar não é somente pedir o favor da graça, mas também agradecer e glorificar, para escutar o que Deus tem a nos dizer e procurar qual a sua vontade para ser realizada.
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BH. 05 de outubro de 2011
Lukas Betekeneng
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
A SEDE DO PODER E DO POSSUIR CAPAZE DE TRANFORMAR UM SER HUMANO EM ANIMAL MAIS VEROZ QUE UM BICHO SELVAGEM
(Mt 21,33-43)
C |
omo o evangelho de Mateus é mais eclesial que os outros sinóticos e João, portanto, essa parábola (dos vinhateirios homicidas e perversas) trata, sem dúvida, do castigo designado aos chefes religiosos e políticos do seu tempo. Parece que essa mentalidade virulenta que provoca o sofrimento nos demais pessoas em razão do prazer do ego era tão comum desde o tempo primitivo, e que ainda, não só permanece, mas se endurece até em nossos dias; tanto é verdade que todos os sinóticos (também o evangelho de Tomé) tratam da mesma realidade usando a mesma parábola, com a diferença somente no esquema do relato, um mais breve e os outros, mais longo (cf. Mc 12,1-12; Lc 20,9-19). Assim, a vinha é o povo de Israel (cf. Is 5,1-7) e o dono da vinha é o próprio Deus. Deus tem depositado sua confiança nos chefes religiosos e políticos (também podemos falar dos pais da família em relação aos seus filhos e todos os anciões e lideranças das comunidades e da sociedade como um todo para com seus membros) para cuidar da sua vinha. Os empregados do dono são os profetas e o filho é o Jesus de Nazaré. A conseqüência da rejeição e a crueldade praticada pelos chefes religiosos e políticos contra a vida dos profetas ao longo da história e que tem culminância na crucificação de Jesus na cruz é prenunciada pelo autor da comunidade mateana de maneira assombrosa: a perda do reino celeste (v. 43) que é o direito eletivo da primogenituridade.
A chave de leitura do nosso texto é, entretanto, a rejeição do anúncio da Boa Nova de Jesus de Nazaré até a sua condenação à morte violenta na cruz. Os adversários de Jesus (ou melhor, da comunidade mateana: os chefes religiosos e políticos, como sumos sacerdotes e fariseus) sabem muito bem que, na realidade, essa parábola é diz respeito a eles, no entanto, temem de tomar uma atitude radical contra Jesus, pois muitos dos povos acreditam que Jesus é mais que um grande profeta. Jesus, segundo o autor, está consciente do seu próprio futuro por causa do seu trabalho diante dos poderosos, religiosos tanto quanto políticos. Assim, ele manifesta, não somente o seu futuro trágico como conseqüência de sua missão, mas também sua plena confiança de que é o enviado de Deus para anunciar a Boa Nova da libertação-salvação do Pai para com o povo pobre, oprimido e explorado, manipulado, política e religiosamente pelas autoridades para manter o seu status quo.
A rejeição e a morte cruel de Jesus, politicamente falando, é a derrota humilhante dos seus adversários. Segundo a comunidade marqueana do Evangelho, o próprio Deus. No final da história, vai glorificar o Jesus-Messias de modo muito admirávelmente, através da ressurreição. E os seus autores (aqueles que condenaram e mataram Jesus) serão todos, da mesma medida, julgados e condenados.
O autor da comunidade de Mateus é muito enfático ao decretar o futuro sombrio dos judeus por causa de seu comportamento: “o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos” (v.43). Assim, a partir de agora e em diante o reino é entregue ao cristianismo, segundo o autor, que disposto a acolher o messias Jesus e o seu Evangelho. E assim, nessa parábola que o cristianismo encontrou, mais do que nunca, o motivo mais forte de sua fé em Jesus de Nazaré, o cristo da glória.
O reino de Deus, para o autor, é nasce, cresce e se fortalece muito mais na ortopráxis que na ortodóxas. Dessa forma, o autor quer convocar sua comunidade (convocar todo o cristianismo) para seguir a Jesus comprometidamente na práxis do reino da fraternidade, custo que custar, a exemplo do Guru. E isso exige, sem dúvida, a mudança radical da mentalidade. Mudança do jeito de ser (cf. 18,2; 5,48), de viver e relacionar (cf. 5,3; 11,29), o novo jeito de governar (cf. 20,24-28) e de ver o mundo como o lugar único e privilegiado em que Deus se revela na história da humanidade.
Um outro ponto que o autor deixa transparecer nesse texto-parábola é a declaração do cristianismo como novo povo eleito de Deus (v. 43) e, portanto, é convocado para à fidelidade, o engajamento e comprometimento total do reino esperado. Esse chamado não é por causa do mérito, mas a responsabilidade, não sozinha, mas com o próprio Cristo (cf. 28,20). Essa profecia mateana é também para os chefes religiosos e políticos dos cristãos de hoje, também para os pais da família, os anciões da sociedade e as lideranças no mundo todo. Pois, somos os ramos de um e único tronco da mesma videira (cf. Jo 14,1-8). Dessa forma, quando acontece qualquer coisa com uma geração, todas as outras gerações sentem o efeito cascata (cf. 1Cor 12,26).
Para concluir, é preciso lembrar, antes de tudo, que o tom violento pregado pelo autor nesse texto não é para provocar a vingança; é a maneira adotada pelo autor para conscientizar os membros de sua comunidade (o cristianismo) sobre sua identidade e responsabilidade do cuidado do reino, diante de Deus e do povo.
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BH. 01-10-2011
Lukas Betekeneng
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