sábado, 8 de outubro de 2011

MUITOS SÃO CHAMADOS, MAS POUCOS SÃO ESCOLHIDOS

(Mt 22,1-14)

Q
ual é o significado dessa máxima tradicional que o autor da comunidade mateana aproveitou para concluir seu relato-parábola do reino de Deus (v.14)? O que o autor quer nos dizer com essa parábola? Quem é esse sujeito que foi para a festa nupcial, mas depois foi preso e jogado para fora, acusado de não ter vestido os “trajes” oficiais de cerimônia? Mas qual, afinal, o significa dessa simbologia dos trajes nessa parábola? Será que Deus de Israel, chamado de Deus de nossos pais, amoroso, compassivo e misericordioso tomará a atitude tão cruel contra sua própria imagem e semelhança? Será que o reino de Deus não foi mesmo preparado para os bons e os maus (v.10)? Então, como é possível que o povo de Israel, ao qual Deus-Amor havia declarado promessas, fosse excluído do reino salvífico?
É precisa, antes de tudo, ter muito cuidado na interpretação dessa parábola para não comprometer a imagem amorosa, compassiva e misericordiosa de Deus. Mesmo porque, a parábola (como alegoria e metáfora) é uma forma cultural aproximativa adotada pelos autores sacros para falar da ação de Deus e do seu reino, mas não os explica, somente sugere e não os esclarece. É um jeito popular de imaginar como seria o reino (que é um termo político, assimilado pelos autores bíblicos) que está por chegar.
A parábola mateana colocada nos lábios de Jesus queria, realmente, sublinhar a responsabilidade dos primeiros (os rígidos observadores da lei mosaica: os escribas, fariseus e sumos sacerdotes, etc.) que se auto-excluíram (por não ter acreditado no anúncio de Jesus) do reino salvífico (ao recusar o convite do festim nupcial), ao passo que o povo simples e marginalizado (os segundos: os pequenos abandonados e explorados, manipulados, oprimidos e excluídos da sociedade como as mulheres e crianças, as prostitutas, os “pagãos” e cobradores de impostos, etc.) terem acolhido a mensagem salvífica de Jesus e acreditado no seu anúncio do reino fraterno de Deus. Realmente o anúncio de Jesus provoca no meio do povo, a tomada de posições: pró e contra. Essa situação também no tempo apostólico. Quando a Igreja começou o seu anúncio provocou, igualmente, as reações diversas; haviam grupos que resistiam do anúncio mas, haviam também outros que  acolhiam e faziam parte da comunidade de fé. Essa realidade de pró e contra também continua até os dias de hoje, de uma e/ou de outra forma. Essa realidade era tida como grande problema que provoca rixas até mortes.
Se se observamos com mais de perto, percebemos que a característica dessa parábola do banquete nupcial tem muito a ver com as parábolas anteriores como a dos vinhateiros, em 21,33-43 e da rede, em 13,47-49. Devemos lembrar sempre que os adversários de Mateus são os judaisantes. Nessa parábola, os judeus são os convidados de honra para o festim por causa de seu vínculo histórico com os patriarcas, profetas e com Jesus de Nazaré, O cristo da fé (cf. Rm 9,1), mas eles rejeitaram o convite. Dessa forma se auto-excluíram previamente do festim nupcial. Enquanto que os últimos chamados: os cobradores de impostos, as prostitutas, as mulheres e crianças e os “pagãos” tendo respondido de maneira positiva ao convite do festim nupcial, começaram a participar do banquete (participar da comunidade cristã), ou seja, começaram a fazer parte do núcleo do novo povo eleito de Deus.
Mas devemos lembrar que, ser prostituta ou coletor de impostos e/ou pagã, não é garantia de vida salvífica, nem aqui na terra e nem no céu, da mesma forma, não é ser sumo sacerdote ou fariseu e/ou escriba. O mais importante de tudo isso é acolher o convite de Cristo para o festim celeste e viver e fazer de acordo com ele. Assim, quando o banquete começar e se inicia a lista de chamada, estamos prontos para entrar e fazer parte da festa de vida.
O significado da máxima tradicional que o autor usou na conclusão do seu relato-parábola, não se sabe exatamente em que contexto da tradição que ela foi inserida. Contudo, nesse texto-parábola torna mais claro para nós a intenção do autor ao adotar essa máxima na conclusão de sua mensagem: “todos, sem exceção, são chamados para participar do banquete nupcial no Reino de Deus, mas são poucos que correspondem o chamado”. Por isso, se diz: “Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos” (v.14). Com essa conclusão o autor da comunidade mateana quer reafirmar sua idéia na parábola anterior (cf. 21,33-43) de que o cristianismo, a partir de agora é o novo povo eleito de Deus. Portanto, não foi Deus quem excluiu Israel, mas sua própria postura, sua atitude de rejeição ao convite do Reino, que comporta, também, a auto-exclusão. Assim, o destino final dos homens (dos seres humanos), para o autor, consiste na livre tomada de posição diante do convite último do festim nupcial, portanto, definitivo de Deus que se constrói passo a passo no decorrer da vida nesta terra.
Os trajes do festim nupcial que o autor usa nessa parábola prefiguram a prática de justiça, de direito, de caridade e de liberdade que são fundamentais na vida de fé do judaísmo. Assim, a vida, a nossa vida neste mundo será sempre uma festa quando há apoio contínuo e recíproco de todos. O sujeito que foi tirado do banquete por não ter os trajes da cerimônia é aquele que acolhe o anúncio, todavia não viveu de acordo, isto é, não pratica a justiça, a liberdade, a caridade e o direito.
O reino salvífico de Deus é prefigurado pelos profetas em uma festa (cf. Is 25,6-12), está intimamente vinculado à missão do Filho de Deus e ao acolhimento ativo de sua pessoa e do seu Evangelho. Assim, fica claro que não é na força da lei e na sua rígida observação que traz a salvação, mas na fé em Jesus de Nazaré, o Cristo ressuscitado, imprimida na prática do fazer o bem: a vivência da justiça social, da liberdade responsável, da caridade libertadora e do direito de cidadania. Ou seja, um verdadeiro entendimento da lei envolve, necessariamente, o agir segundo a lei (v.11). Não é na ortodoxia estéril da lei que salva, mas na sua ortopraxia fértil do bem: da justiça, do direito, da liberdade e da caridade humanizadora, portanto, salvífica.
Assim também a vocação cristã, por si mesmo, não comporta a salvação final e nem mesmo para os cristãos uma garantia mágica da participação no reino de Deus. É necessário, conclui o autor, a perseverança na prática do bem de justiça, do direito, da liberdade e caridade salvífica (vv.11-14).
__________&&&__________
BH. 08-10-2011
Lukas Betekeneng

Nenhum comentário:

Postar um comentário