quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A SALVAÇÃO É TODA GRAÇA DE DEUS OFERECIDA E O FRUTO DO ESFORÇO TOTAL DO PRÓPRIO HOMEM

(Lc 13,22-30)
A

 salvação “já” está feita, mas “ainda não” está pronta e acabada, ainda está em contínua construção. Só crer (passivamente) em Jesus Cristo para obter a salvação, isso não basta, é preciso de sua “materialização”, preciso de práticas – de justiça, do direito, da liberdade responsabilidade e da caridade libertadora efetiva, que não são outra coisa senão a índole dessa fé do reino fraterno. A salvação não é somente o fruto da crença rezada (ou, orada), mas também, e até muito mais da fé vivida concretamente no dia a dia, com afinco: a perseverança na prática de justiça e do direito, da promoção da paz e da liberdade. A salvação é, contudo, uma via de mão dupla: de Deus e do ser humano. Você pode ir à missa todo o dia, rezar e ouvir a Palavra de Deus 2 ou 3 vezes por dia, e ainda pode, sobretudo, crer que depois de cumprir todo esse ritual então, sua salvação já está garantida. Mas essa falsa sensação psíquica é um engano psicológico e, portanto, não leva a ninguém a lugar nenhum e nem garante o ingresso para o reino De deus (v. 26). Não adianta mais nada bater naquela porta depois que ser fechada e nem vale a pena dizer: “nós comemos e bebemos em tua presença e tu ensinaste em nossas praças”.
O Jesus de Lucas, neste momento, se dirigindo rumo à meta: Jerusalém. É lá que é o lugar onde o reino de Deus se manifesta a sua plenitude (cf. 19.11). Nesse texto, o autor da comunidade lucana do Evangelho afirma a passagem do “antigo” povo de Deus para o “novo” (vv. 25-27). A Boa Nova de Cristo é rejeitada pelos judeus e, então, é oferecida aos “pagãos”, vindos de todas as partes do mundo e tomarão o lugar à mesa do festim nupcial do reino fraterno celestial (v.29). Assim, os judeus que pelo privilégio da revelação seriam os primeiros, serão os últimos, mas os “pagãos” serão os primeiros (v. 30; cf. também, Mt 2,1-12). Com isso, os judeus, segundo Lucas, perderão o seu direito de “primogenituridade” no reino de Deus.
A pergunta curiosa feita a Jesus nos chama a atenção: “São poucos os que se salvam”? Esse tipo de pergunta era o assunto comum dos debates entre os grupos religiosos judaicos. Conforme o pensamento teológico rabínico, baseado na profecia de Isaías (cf. Is 60,21), todo o povo de Israel tomaria parte do reino futuro, ao passo que para os grupos apocalípticos (alguns deles), uma pequena parte se salvaria. Jesus não entra no mérito da pergunta tipo casuística, mas a partir dela faz uma interpelação bem forte ao empenho: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão” (v. 24).
Mas o que Jesus lucano quer dizer com isso? Com esse apelo, Jesus assinala o desafio que ele vai encontrar pela frente: a dificuldade envolvida no seu seguimento, principalmente quando entrar em Jerusalém. Menciona, igualmente, sobre aqueles que tinham a ilusão de estar seguindo-o no seu caminho, porém mantinham um vago relacionamento com ele: comiam e bebiam com ele, ouviam suas palavras, mas sem nenhum espírito de comprometimento crístico e de companheirismo íntimo e nem aceitavam seus ensinamentos como Palavra de Deus que os interpela continuamente para a mudança de mentalidade na prática de vida cotidiana (cf. 8, 21).
A “dor e o ranger de dentes” (v.28) são a forma de Jesus lucano interpelar para aqueles que se mantém numa falsa consciência e ficam acomodados na apatia sem demonstrar o entusiasmo nem o sinal de mudança de vida. Lucas fecha seu texto com uma sentença, que sinaliza a possibilidade de sempre está aberta a esperança da salvação para todos: “Haverá últimos que serão primeiros e primeiros que serão últimos” (v.30). Assim, não há privilégio no reino de Deus e nem os afortunados, mas apenas a inversão de ordem da compreensão da salvação como ato beneplácito de Deus nos tempos finais.
________&&&________ BH. 25-10/2011
Lukas Betekeneng

Nenhum comentário:

Postar um comentário