(Rm 8,12-17; Lc 13,10-17)
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aulo de tarso testemunhou sua fé aos romanos, com toda a sua convicção, dizendo que o “Espírito divino se une ao espírito humano para nos atestar que somos filhos de Deus. Assim, afirma o Apóstolo dos “gentios”, se somos filhos, somos, igualmente, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rm 8,16-17). Isso significa que, tudo o que aconteceu na vida de Jesus de Nazaré, acontece – e vai continuar acontecendo – também conosco como cristãos e cristãs: o sofrimento, a mortificação, a ressurreição e glorificação. Essa afirmação revela a consequência necessária do seguimento (cf. Mc 8,34) e, ao mesmo tempo, o seu apelo aos discípulos e seguidores durante sua vida terrena: o projeto da construção de um mundo novo baseado na fraternidade, tendo o próprio Nazareno, o Cristo-irmão misericordioso como o primogênito de toda a humanidade (cf. Mt 23,8-12; 28,19-20; Jo 15,14-15). É um novo paradigma de vida que Jesus ter lançado como desafio para todos os cristãos, em todas as gerações, um mundo diferente, mundo onde todos têm a voz e a vez, mundo onde todos têm direito e liberdade, onde homem e mulher vivem lado a lado na harmonia e sem exclusão, buscando a unidade no amor solidário e na paz verdadeira como filhos e filhas do mesmo e único Deus Pai.
Nesse segundo relato lucano de cura evangélica (cf. 6,1-11; 14,1-6) nos mostra a determinação de Jesus desmascarando a cegueira hipócrita dos líderes religiosos de seu tempo. O centro da discussão é sobre, permitido ou não fazer o bem para com o próximo no dia do Senhor (o Sábado, para os judeus – que seria o domingo para os cristãos e sexta feira para o islã)? Para os líderes religiosos, o sábado foi conservado exclusivamente para o Senhor e nada mais. Portanto, se alguém fizesse alguma coisa no dia do Senhor cometeria o grave erro: a blasfêmia contra a Lei do Senhor do sábado, contra o Templo de Senhor onde os homens se reúnem em oração e adoração e, por fim, contra o próprio Senhor do céu e da terra. Enquanto que para Jesus, toda essa eloquência dos oficiais não passa de suas artimanhas, uma armadilha bem feita para poder curvar qualquer um diante do poder autoritário e explorador do qual os chefes religiosos (os fariseus e escribas) se fazem como seu detentor. O sábado, na compreensão de Jesus, foi feito para o ser humano e não o contrário (cf. Mc 2,27), portanto, os filhos de Deus são o senhor do sábado (cf. Mt 12,8), e assim, todo o dia é o dia em que se deve praticar o bem e não o contrário. A verdadeira blasfêmia, segundo Jesus nesse sentido, seria praticar o mau, por menor que seja, contra o seu irmão no dia do Senhor. Santificar o nome do Senhor Deus no dia de sábado é, exatamente isso, fazer o bem para com todos.
Mas Jesus prefere desmascarar a hipocrisia dos chefes de uma só vez em vez de prolongar a discussão inútil. Jesus sabe muito bem que os chefes têm resgatado seus animais no dia de sábado, além de ir rezar no templo como cumprimento da Lei. Por isso lançou uma pergunta bem irônica para desafiar suas inteligências espirituais, morais, culturais, políticas, econômicas e teológicas, como forma de calar-lhes a boca de vez, dizendo: “Quem de vocês não solta no sábado o seu boi ou seu asno do estábulo e não o leva a beber” (v. 15)? Ou, teria perguntado de outra maneira: qual dele o mais importante, socorrer o ser humano feito imagem e semelhança de Deus (cf Gn 1,26) ou preocupar com o boi e/ou o asno? É aqui que está o problema dos chefes espirituais e religiosos: a inversão de valores entre o ser humano (o alguém) e o ser animal (o algo). É aqui que se percebe a cegueira hipócrita dos líderes tiranos que se fazem passar de pastores.
Assim, está claro de que não há lugar nenhum e nem um outro ser qualquer neste planeta Terra que seja mais sagrado senão o coração humano onde reside o Espírito de Deus. Foi para este ser humano-imagem-e-semelhança que nele o Deus soprou o seu Espírito no jardim de delícia e, por fim, se encarnou em Cristo Jesus para salvá-lo das garras do pecado que provoca a morte, e não o boi e/ou asno e nem mesmo para o sábado.
Mas, parece que o problema não foi a questão de fazer o bem ou não no sábado como tal, mas porque o bem que Jesus tem feito foi para socorrer a mulher, e ainda doente, exatamente no dia de sábado, que na sociedade judaica paternalista a mulher é tratada mais como uma vaca leiteira que pessoa humana, faz parte dos pertencentes do varão junto com as crianças e coisas.
Para os chefes religiosos, a pergunta de Jesus foi uma provocação, um desafio monumental para a sua teologia da criação que ressalta a igualdade do direito sagrado e da dignidade entre o ser humano criado com o seu Deus criador (cf. Gn 1,26). Desta maneira que, Jesus quer recordar-lhes mais uma vez que exatamente no dia de sábado é que se pratica ainda mais o bem para com o próximo, assim como o Senhor Deus tem feito para com os antepassados (cf. 20,11; Dt 5,15). O sábado é o dia da criação, da salvação e da libertação, o dia de dar a vida, de levantar o estima, de devolver a dignidade e o direito e não de curvar o ser humano em nome da lei qualquer, de abandono, de desprezo, de discriminação, de opressão, de manipulação do direito, da justiça e da dignidade das pessoas.
Olhando para dentro de nossas vidas, da nossa comunidade-família, das nossas igrejas e da nossa instituição política, devemos, com humildade e vergonha, batendo no próprio peito bem forte, dizendo repetidamente essa frase: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa! Pois, a prática ideológica religiosa (espiritual e teológica) tanto quanto cultural, econômica e política contra mulher continua proliferando até neste pleno terceiro milênio. As mulheres ainda são tratadas como gente de segunda categoria, como fonte do pecado, como sexo frágil, como ajudante do marido, como procriadora dos filhos, etc.
________&&&________ BH. 24-10/2011.
Lukas Betekeneng
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