quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A BONDADE DE UM AMIGO FORTALECE A FÉ NA GRAÇA INCONDICIONAL DO DEUS-AMOR

(Lc 11,5-13)

A
través do relato, aparece-nos o “chão” da realidade (o contexto) do nosso texto. Parece que a situação da vida de fé, de esperança e confiança na comunidade lucana está dando um sinal de enfraquecimento, de frustração. Há alguns da comunidade têm questionado a bondade de Deus diante dos desafios (questionado a eficácia das suas orações), têm queixado de que Deus não tem atendido suas preces. Há também tendência do imediatismo que parece está dominando, cada vez mais, a mentalidade das pessoas na comunidade de fé. Para o autor, as pessoas devem saber que a ação de Deus (seu método de fazer o bem) não é a mesma que a dos homens. Parece também que alguns dos discípulos estão perdendo a confiança e paciência, e isso não é o bom sinal para uma vida mais sólida, mais alegre, mais feliz, mais animada e esperançosa. A vida sem a esperança e confiança é morta. É com a força de esperança e confiança que nos faz viver. Detectando essa realidade de desandamento de fé e esperança, o Jesus de Lucas precisa tomar uma atitude mais prática, usando a experiência do dia a dia da comunidade para resgatar e fortalecer a fé, para reacender a chama da confiança e esperança em Deus e, assim a vida pode continuar caminhando.
O autor da comunidade lucana do Evangelho aproveitou, desta vez, o clima de convivência fraterna do dia a dia entre os bons amigos para fortalecer a fé dos seus membros em Deus-Amor quando se dirigem na oração. Ou seja, para reavivar o ânimo e o entusiasmo, para revigorar a vida de oração, pessoal e comunitária. Se um amigo, por simples ser amigo, é capaz de se prontificar a fazer um favor em qualquer hora do dia para com seu amigo, o Deus-Amor-compaixão e mericordioso é muito mais disponível ainda para com seu povo, criado à sua própria imagem e semelhança. Só precisa de paciência e confiança, precisa manter viva a chama da fé e esperança. Esse ambiente de hospitalidade fraterna entre amigos que o autor adotou na sua parábola para falar do amor de Deus para com seu povo é muito próprio do Oriente, que é algo muito sagrado para aquela cultura. Por ser tão sagrada a amizade, por isso os orientais raramente têm medo de apostar no investimento da convivência de amizade. Para eles toda a vida é a vida de amizade (amor, integridade, zelo, afeto, doação e empatia - amizade) que é a propriedade de Deus. Eles vivem usando a maior parte do seu tempo, seu espaço e seus bens para cultivar a amizade, pois acreditam que a amizade é a própria vida de Deus compartilhada e investida na vida da humanidade e a de toda criatura.
Assim, a amizade oriental entre amigos não conhece nem a hora nem o dia, não se limita nem no tempo nem no espaço. Se o ser humano limitado capaz de ser dessa forma para com o outro ser humano, o Deus-Amor-compassivo e misericordioso é muito mais que isso, ele não tem nem a hora nem o dia para amar o seu povo, não tem programação para demonstrar sua graça; todo tempo é o tempo de Deus, o tempo de amar e ser amado, tempo de fazer o bem.
Ao distribuir a graça, Deus não pode nem como fazer sozinho diretamente a alguém, ele precisa de nós homens e mulheres da humanidade. Precisa de nossos ouvidos, de nossos olhos, de nossas mãos, de nossos corações e sentimentos, precisa de nossos pés, precisa de tudo o que somos e temos para fazer-lhe transparecer na prática da vivência solidária, pois ele não tem o corpo como nós o temos, nem as mãos e nem os ouvidos. Pois, ao criá-lo à sua imagem e semelhança no jardim de delícia da vida, Deus tem doado todo o seu ser para os homens (o ser humano), para que nós, homens e mulheres, usarmos de tudo o que recebemos dele para fazer o bem, com ele, nele e em nome dele, para a glória de seu nome e para o nosso bem, também para o bem do próximo e o dos demais. Assim, fica claro que, quando se faz a maldade qualquer, por menor que seja, contra o seu amigo e/ou sua amiga, além do nome de Deus é agredido, desacreditado e profanado, é também o próprio nome e credibilidade estão vulgarizados.
Mais um outro ponto importante que aparece nesse texto e que merece nossa atenção. O autor usa, além do exemplo de atitude cordial do amor fraterno, também a experiência do amor paterno como verdadeira parábola para convencer os membros de sua comunidade em relação a generosidade ilimitada de Deu, o seu profundo amor mesurado (afável) que não se desmente.
Agora, o Jesus de Lucas vai nos revelar qual é a maior graça que se deve pedir na oração: o Dom do Espírito Santo para nos ajudar no discernimento da vida (v.13). Somente dessa maneira que se compreende a oração como uma comunicação saudável e madura, íntima de dois amigos que se conhecem, se amam e se respeitam, e não como uma fórmula mágica (ou, de feitiço) para dobrar Deus ao nosso querer humano. A oração é, portanto, um diálogo íntimo e aberto, transparente, maduro e criativo entre dois amigos, humano e divino, é uma total abertura ao amor pleno de Deus, à liberdade criadora que nasce e cresce na sua fonte inesgotável da vida: no dom do Espírito Santo.
Percebe-se que o autor da comunidade lucana dos Atos, confirma esse tripé: a oração, o dom do Espírito Santo e o empenho dos homens para a liberdade criadora (Cr. At 1,14; 2,1-4; 4,31; 13,2-3). Não basta rezar, é também precisa ser fiel à oração, precisa confiar no dom do Espírito Santo e discernir com afinco para que tudo aconteça. Nada adianta gritar: “Senhor”, “Senhor”, sem escutar o que Deus tem a nos dizer e fazer o que nos pedir (cf. Lc 6,46-49). Deus não faz nada – sozinho diretamente – para nós, mas ele nos acompanha tudo, em todos os tempos e lugares, em todas as situações de vida, ele ilumina com a luz do seu amor, nos inspira e motiva para ser bom e fazer o bem. É na bondade e benignidade do ser e viver que se revela e fortalece a fé no Deus-Amor-compassivo e misericordioso.
Que a intenção da oração não é para curvar Deus aos nossos desejos, e nem como suplemento cômodo perante fracassos e frustrações da vida existencial, e nem mesmo como fórmula mágica (ou feitiço), mas é uma abertura total ao amor incondicional de Deus, um diálogo íntimo, maduro e sadio da humanidade com Divindade. Seguir a Cristo é deixar a vida carregada pelo seu Espírito, ser bom, como ele é bom, para fazer somente o bem. Seja bom como Pai celeste é Bom para com todos. Orar não é somente pedir o favor da graça, mas também agradecer e glorificar, para escutar o que Deus tem a nos dizer e procurar qual a sua vontade para ser realizada.
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BH. 05 de outubro de 2011
Lukas Betekeneng

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