“Elegância é a arte de não fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir”
(Amborise-Paul-Toussant-Jules Valéry)[1]
1º domingo do Advento
(Is 63,16-17.19; 64,2-7; 1Cor 1,3-9; Mc 13,33-37)
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tom do discurso marqueano do Evangelho com essas três palavras de maneira sucessiva, cria em nós uma sensação ou, clima – psicoemocional tanto quanto moral e espiritualmente – meio tenso e apreensivo. Além disso, também nos faz imaginar o quanto a situação do convívio político e social na comunidade-Igreja de Marcos naquele exato momento. Faz-nos, igualmente, imaginar a cena de uma sociedade vigiada, insegura onde as pessoas vivem correndo contra tempo, todo mundo anda com pressa, uma vida de verdadeira corrida onde a rua é de todos, mas cada um por si, ninguém pára para cumprimentar a ninguém, todo mundo desconfia de todo mundo, todo mundo correndo atrás de alguma coisa. A vida está de alerta máxima, de sobreaviso: cuidado! Ficai atentos! Vigiai! Mas por que a razão de o autor insiste tanto na vigia e no cuidado?
A razão da insistência do autor sobre a vigilância, o cuidado e o estar sempre em prontidão é a certeza da incerteza sobre a vinda de Jesus Cristo (vv. 33.35), em uma perspectiva escatológica ou, a parusia. Os termos adotados pelo autor serve, na realidade, como alerta para uma atitude de prudência como forma de se cuidar e preparar a própria vida diante dos desafios, de modo especial o desafio em relação com a salvação da própria existência. É o momento de se cuidar da própria ação convivencial, de se vigiar e sempre atentos aos sinais dos tempos. Cuidar dos pensamentos que se revelam nas palavras; cuidar das palavras que se imprimem nas ações; cuidar das ações que se perpetuam como hábitos; cuidar dos hábitos que formam o caráter; e cuidar, enfim, o caráter que dirige o seu destino final de vida.
Tanto a primeira quanto a segunda leitura e o Evangelho de hoje nos chamam a atenção para a vida de cuidado e de vigilância permanente para não ser surpreendido. Assim, de modo especial nesse tempo de advento, que é o tempo de preparação de vida para a celebração do dia natalício de Jesus Cristo, o Emanuel. Mas, preparar o que e para que? É importante, sim, a preparação do físico-material, mas mais importante ainda é a preparação integral do nosso ser – físico, psicológico, ético e moral social e espiritual – como pessoa humana-imagem-e-semelhança do Criador divino. O Advento é o tempo de re-nova-açao (renovação) do jeito de ser, de conviver e de agir, o tempo de reconciliar, de perdoar e amar, é tempo oportuno de transformação de vida cada vez mais humana e salvífica, é o tempo de voltar ao caminho de Deus da vida (metanoia).
É esse modo de vida vigilante, prudente e de cuidado que nos difere dos demais, é a marca de vida do discipulado crístico. Só o homem e a mulher sábios, afetuosos, maduros, responsáveis e equilibrados que sabem o que significa viver dessa forma. Os cristãos todos são chamados para ficar de sobreaviso, de vigilância permanente, de cuidado contínuo, pois ninguém sabe, nem o dia e nem a hora, da chegada do Senhor (vv. 32-33.35.37). Para Marcos, é óbvio que os discípulos e seguidores de Jesus devem ser missionários atentos dessa Boa Nova de Deus, no aqui e agora, pois o anúncio da vinda do Filho do Homem na sua glória foi lhes confiado. “O que vos digo, digo a todos: vigiai” (v. 37). Há duas intenções da celebração do tempo advental: primeiro, é o tempo de preparação para a celebração da vinda de Deus em forma de um ser humano fragilizado: o Jesus de Nazaré; e o segundo, é a preparação para a segunda vinda do dia do Senhor de cada um e cada uma de nós para nos buscar de volta à casa celeste.
“Que o vosso amor seja sincero e sem hipocrisia, detestando o mal e apegando ao bem” (Rm 12,9). Se o seu amor fica limitado no nível do ouvir da Bíblia, do discurso homilético, da oração programática e do sacrifício ritual, e quando amar se limita aos amigos, parentes e conhecidos, essa prática de amor é pura hipocrisia. Procure fazer o bem para com todos sem discriminação, isto é, para além dos conhecidos: os desvinculados, desconhecidos e os estrangeiros, fazer o bem até para com os inimigos (cf. Lc 6,27). Pois “tudo e qualquer que fizestes a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (cf. Mt 25,40). “Se fazeis o bem aos que vo-lo fazem, que graça alcançais? Pois os pecadores também agem assim” (Lc 6,33). Como estamos vivendo a nossa vida de oração? E como estamos rezando da nossa experiência de vida? Se a vida de oração não fosse vivida concretamente no dia a dia, a própria oração seria uma farsa, um simples balbuciar sem força nem sentido; e se a própria experiência cotidiana de vida não se transforma em frases e versos de oração, a própria vida seria como a flor de plástico que mostra apenas o brilho aparente, no entanto, não oferece nem aroma e nem a vida.
Desejo um Bom Advento para todos! E que a luz do amor de Deus acompanhe cada uma e cada um no seu contínuo esforço de vida vigilante, atenta e prudente, no decorrer de seu preparo até a chegada do dia do Senhor.
_______&&&_______ BH., 25/11-2011
Lukas Betekeneng
[1] Amborise-Paul-Toussant-Jules Valéry ou, conhecido e chamado como Paul Valéry (1871-1945) é um filósofo, escritor e poeta francês da escola simbolista. Suas obras são reconhecidas (em 1917) pela originalidade e pela variedade de temas elaborados, como arquitetura, artes plásticas, músicas e dança entre outras. Mas sua obra mais conhecida popularmente foi quando ele lançou seu poema cujo título “A jovem Parca”, em 1917. Por causa de um amor não correspondido, por Madame Rovira, que fez com que o Paul Valéry se voltou para a reflexão filosófica. Algumas obras filosóficas publicadas em um período de crise foram: “A introdução ao método de Leonardo da Vinci” (1895) e “Monsieur Teste” (1926).
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