sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O JUIZO FINAL DE DEUS SE REALIZA NO ESPAÇO E TEMPO DE NOSSA VIDA EXISTENCIAL

(Lc 17,26-37)
L

endo o título, pode provocar em nós, que temos uma mentalidade de dogmatismo tradicional ou, a espécie de repetidores (talvez como seguidores ou, simples simpatizantes) desse grupo, um certo clima de estranheza e até mal estar psicológico. Isso, porque não fomos educados de outra maneira, nem para pensar um pouco diferente com uma visão mais crítica, e quase nunca ouvimos alguma coisa diferente em relação a isso. Sempre fomos adestrados mais para escutar e acreditar engolindo cruelmente o “sapo” de olhos fechados em nome da fé que perguntar criticamente, opinar ou até criticar, também, em nome de uma e mesma fé para ser mais saudável e madura. E, então perguntamos: o juízo final será em nossa vida no aqui e a gora existencial ou no além-túmulo, depois de nossa morte física?
A manifestação do reino de Deus era esperada em um sentimento de saudade intensa do passado, juntamente com uma esperança forte da vinda do Messias prometido (cf. 3,15). E esse momento seria o tempo de julgamento final e da recompensa definitiva (cf. Jl 2,1-2; 3,4-5). Esses assuntos – a manifestação do reino e a vinda do Filho do Homem ou, o Messias prometido – eram realmente muito vivos, principalmente, naquele contexto de luta pela libertação do povo contra a colonização e opressão estrangeiras: político, social, econômico e cultural. De tanto esse clima de espera que fez com que os grupos apocalípticos tentaram fixar um calendário da chegada do reino de Deus, procurando os sinais extraordinários, nos céus e na terra como: guerras, terremotos, tempestades, doenças, etc. Ao passo que os fariseus procuravam manter viva essa ânsia no povo e apressar a vinda do reino com a observância rígida da lei e a austeridade de vida penitencial. Toda essa tentativa manipuladora para enganar o povo, tanto por parte dos apocalípticos quanto dos fariseus, toda foi rejeitada por Jesus. Para o Nazareno, a “vinda do reino de Deus não é observável” (cf. v. 20).
Mas por que Lucas ainda reproduz essa situação de esperança profunda e perplexidade intensa em ralação com a manifestação do reino de Deus e a vinda do Messias, se na prática essa realidade já passou de duas gerações do movimento jesuânico (dos cristãos)? O que está acontecendo, de fato, na comunidade-Igreja lucana do Evangelho? Será que havia surgido no meio do povo um certo fenômeno de desânimo, uma espécie de esfriamento do entusiasmo da vida de fé na comunidade? Esses questionamentos surgiram à tona pelo fato de o autor coloca esse relato escatológico exatamente no início de seu Evangelho, enquanto que normalmente se coloca mais no final.
Tudo parece que, quando o Jesus lucano não concordou com a ideia ilusória de uma vinda imediata e de forma extraordinária do reino de Deus, a esperança e a espera tinham se esmorecido. O líder da comunidade não perdeu, contudo, o método de acompanhamento e nem a criatividade no trabalho de reanimação. Ele, então, completa a fala de Jesus sobre o reino, com um “tom apocalíptico”, usando alguns de seus ditos sobre a espera vigilante. O futuro esperado, para esse líder, possui, agora, o rosto do Nazareno, o Cristo-irmão compassivo e misericordioso, o Filho do Homem e de Deus humilhado e desprezado até a morte, mas por Deus ele foi ressuscitado e glorificado, e reconstituído, para toda a humanidade, o juiz.
Para o Jesus lucano, o julgamento de Deus (a manifestação do reino e a vinda do Filho do Homem) não acontece fora de nossa história (após-morte). Ele acontece neste mundo do aqui e agora, dentro de nossa história existencial, do nosso cotidiano de vida, e sem sinais extraordinários. Assim, “como aconteceu no tempo de Noé e de Ló, o mesmo acontecerá no dia em que o Filho do Homem for revelado” (vv. 26-30). Por isso, exige uma atenção constante e estar sempre em estado de prontidão para que não seja pego de surpresa. Pois quando chegar a esse julgamento, ninguém pode mais fazer nada nem para ajudar a salvar e/ou defender a vida dos seus familiares, parentes e/ou amigos (vv.34-36). Por isso afirma: “Quem procura ganhar a sua vida vai perdê-la, e a perde vai conservá-la” (v. 33). É de suma importância educar a vida sempre livre do apego às riquezas para poder prestar a atenção na manifestação do Senhor (cf. Sb 13,1). Precisa viver com o pé no chão e com os olhos fixos a Cristo, e a esperança e confiança firme no amor do Pai. Ou seja, é preciso deixar a vida carregada pelo Espírito do amor de Deus. Não há o julgamento coletivo de Deus, cada um é responsável por aquilo que faz na sua vida: o bem e/ou o mal. São esses atos que vão ser os seus advogados de defesa ou de acusação no dia do Senhor.
Seja vigilante e justo, simples e humilde, manso e amoroso, compassivo e misericordioso. “Que o seu amor seja sincero e sem hipocrisia, detestando o mal e apegando ao bem” (cf. Rm 12,9).
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Lukas Betekeneng

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