(Mt 12,46-50)
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iante dos desafios que a comunidade-Igreja recém-criada enfrenta no começo de sua vida, a pergunta que está na cabeça de todo o mundo seria essa: o que é que nos difere com os outros povos e crenças? Ou seja, qual é a marca típica de nossa identidade como seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré, o Cristo-irmão misericordioso? Como aconteceu na comunidade marqueana e lucana, assim também na comunidade mateana do Evangelho: a busca constante de identidade própria de vida do discipulado crístico. A busca do novo jeito de ser, de viver e de agir.
Como maior desafio da comunidade-Igreja de Mateus é o conservadorismo e/ou tradicionalismo judaico dentro da própria comunidade-Igreja, o movimento cristão precisa de uma identidade clara, de uma espiritualidade própria e de uma compreensão diferente de ser, de viver e agir como homem e mulher de fé. Precisa de uma luz clarificadora do interior capaz de identificar uns e outros e unificar o grupo em torno de um objetivo comum: procurar ser, viver e agir de acordo com a vontade de Deus que está no céu através da escuta de sua Palavra-Vida e a põe em prática salvífica, para consigo e com o próximo (v. 50; Mc 3,35; Lc 8,21). É esse objetivo comum que serve como vínculo que estabelece o inter-relacionamento lógico ou de interdependência afetiva-efetiva entre os membros.
Por desconhecimento (ou, até por causa de parcialidade e/ou precariedade das informações) cultural do povo oriental em geral e do Médio Oriente em particular e mais especificamente da cultura semítica que faz com que alguns chegaram a afirmar – e ainda continuam afirmando – de modo equivocadamente que Jesus tem rompido seu vínculo com sua família sanguínea para viver isoladamente com seu grupo reduzindo, dessa forma, em uma simples coexistência. Essa interpretação, no meu modo de ver é muito sintomática, interesseira e manipuladora e, portanto, insalubre para a vida mística e espiritualidade cristã. Mesmo porque a compreensão de família e de familiaridade cultural oriental é bem diferente do Ocidente. A formação de uma família, na cultura oriental, se baseia em uma concepção da aliança sagrada, profunda e indissolúvel, indivisível e inviolável, pois é o centro gerador e formador e transformador da vida, e não de uma concepção de contrato. E a familiaridade vista e crida como fruto dessa graça da aliança estabelecida que restabeleça um novo vínculo interno ampliado, e que ultrapassa a concepção sanguínea de familiaridade. Assim, torna uma pequena família em “Grande Família”.
Jesus tem se distanciado de sua família natural para se dedicar à missão salvífica e libertadora de Deus, e esse distanciamento é a consequência, mas nunca a abandou no sentido de rompimento do seu vínculo familiar. Se fosse, seria mais uma especulação do intelecto racionalizado que a racionalidade do real sentido da experiência vivida.
O evangelista – assim como Marcos e Lucas – mostrou o seu Jesus tentando superar a tradicional compreensão judaica de irmão (ou, de família e familiaridade). Antes, a compreensão de irmão gira em torno de cinco possibilidades: irmão de sangue (do mesmo pai e da mesma mãe), irmão pelo parentesco tribal, pela circuncisão, pela localidade residencial e, por fim, pela descendência abraâmica. Jesus supera, por sua vez, a compreensão de irmão pela fé em um e único Deus que está no céu como Pai de toda a humanidade e todos somos irmãos e irmãs.
Para Jesus, agora é o momento de sair da toca aprisionadora para se lançar no horizonte de vida fazendo todos e todas a irmã e o irmão no mesmo e único amor misericordioso do Pai celeste, “concidadão dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2,19). E a identidade dessa nova “Grande Família” é a fidelidade operante da vontade de Deus: “Quem quer que faça a vontade do meu Pai celeste este é meu irmão, minha irmã, minha mãe” (v. 50). Essa é a marca de vida dos discípulos e seguidores de cristo: escutar atentamente a Palavra de Deus, buscar sem cessar a sua vontade e põe em prática com criatividade na fidelidade (cf. Lc 8,21). Os cristãos, segundo o evangelista, são os procuradores e fazedores da vontade de Deus. As congregações religiosas na Igreja, hoje, são tentativas da realização desse projeto crístico de “Grande Família” de fraternidade e irmandade (ou, de familiaridade) baseada na fé. Como estamos vivendo a nossa “Grande Família” de fé? Em outras palavras, para onde está indo e onde quer chegar a nossa “Grande Família” de fé, eclesial e congregacional?
________&&&_______ BH., 21/11-2011
Lukas Betekeneng
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