(Lc 21, 12-19)
“Quando se ama, a fidelidade não custa nada”
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(Henry de Montherlant)[1]
ercebe-se que o discurso lucano do evangelho dirigido aos cristãos de sua comunidade-Igreja remonta, na realidade, ao fato do Jesus de Nazaré, o Cristo-irmãos misericordioso da fé, todavia, foi influenciado pela própria experiência cristã recém-nascida do testemunho de queda de Jesrusalém (vista e interpretada como julgamento divino por causa de sua infidelidade ao amor de Deus, seu descuido e sua imprudência) e da perseguição sistemática e popular dos primeiros mártires, como: Estêvão, Pedro, João, Tiago e Paulo, e muitos outros. Essa real experiência de vida serve, portanto, como exemplo e estímulo para todos os discípulos e seguidores: a coragem no testemunho da verdade de fé, a humildade e prudência no convívio interrelacional com os diferentes, a fidelidade ao amor incondicional de Deus anunciado e testemunhado por Jesus Cristo, a firmeza na esperança viva e ativa da graça protetora e salvadora e a confiança plena no Espírito salvífico do Pai celeste.
Entre todos os autores do Evanglho, Lucas é um evangelista diferenciado ao escrever sua Boa-Nova de Deus, em Cristo, estruturando em três tempos: o tempo profético da promessa esperançosa; o tempo crístico da revelação e realização efetiva da promessa messiânica; e, porfim, o tempo eclesiológico da mundialização do testemunho do amor fraterno. Em todos esses três tempos de economia da salvação divina, foram e serão sempre marcados pela perseguição e martírio, aqui e acolá, de uma e/ou de outra forma. Essas realidades desafiadoras são o preço do amor pela verdade de vida e seu sentido e que também já foi e será sempre pago pela outra vida para, mais tarde, poder reté-la de volta, no momento de sua plenitude (9,24), por essa confiança, diz: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” (v. 19).
A própria presença de Jesus serva como luz reveladora que clareia o passado improdutivo, defasado e caduco e aponta para um caminho novo transformador do futuro a ser seguido. Ou seja, a presença reveladora de Jesus já é o próprio tempo de regeneração, de pro-vocar-ação (provocação), de refundação ou, de refontização, de redirecionamento, de re-nova-açao (renovação), é o tempo de crise e de crascimento, de auto-re-parturição de vida (cf. Jo 3,3), de aprender a reaprender a conviver e amar e ser fiel com o entusiasmo de uma criança (cf. Mt 18,3).
O tom assombroso do discurso do autor não é, contudo, para amedrontar o entusiasmo dos fiéis no seu testemunho, mas também não para hesitar o seu espírito de chicoteamento moral/espiritual e psicoenocional em nome do amor pela verdade nem para ascender a chama do ânimo descontrolado. Muito pelo contrário, serva de alerta ou prevenção – baseada na própria experiência – para ter mais consciência da realidade e a prudência na hora de agir, ter mais coragem e, ao mesmo tempo, humildade, mais fidelidade e firmeza, mais confiança, amor e esperança. Os discípulos e seguidores de Jesus, por causa dessa realidade, não podem ficar nem temeroso, nem ansioso e nem frenético sobre as perseguições que vão se encontrar pela frente. Todos eles, claro, terão oportunidade de dar seu testemunho (cf. At 3,15; 4,20). Contudo, não precisam preocupar em nada nem mesmo com o que irão dizer no momento do julgamento, pois, garante o autor, o próprio Espírito do Ressuscitado vai atuar com eficiência e eficácia no momento certo e na hora certa, de tal modo que nenhum de seu adversário poderá resistir ou rebater (v. 14).
Tudo isso, segundo o autor, é para demonstrar o tamanho de seu amor por um “nome”. O nome desse que eles têm acolhido, crido e depositado sua confiança e esperança: o Jesus de Nazaré, o Emanuel que se tornou o Cristo-irmão misericordioso. O nome, para nós no Ocidente, não diz quase nada, mas para o Oriente, ter um “nome” significa a síntese do “ser” alguém na vida e na missão. Meu nome é minha missão. O nome é a porta de entrada do ser. Tudo o que vivo e faço externamente tem a ver com aquele que sou internamente. Assim, quando mudar de nome de alguém significa mudança de sua missão. Para o autor, os discípulos e seguidores têm de mostrar seu amor per esse “nome” apostando tudo o possível. Porém, não devemos esquecer que a fidelidade serena e a confiabilidade plena só existem realmente para quem ama verdadeiramente. Mas, em que, afinal, consiste esse amor eternal por causa da importância desse “nome” que se exprime na fidelidade e confiabilidade?
Amar sempre é um arriscar-se consciente, corajoso, confiante e “creativo” de sua própria vida e felicidade, apostando nos dias melhores. O amor é a força mística de vida que sempre está em busca de união comunial com outra vida, que não é outra coisa senão a própria vida de Deus em nós. Quem ama de verdade, sempre disposto a se “desaparecer” no outro ou na outra por amor, com amor e no amor. Assim, o Deus, por causa de tanto amor por nós, se entregou totalmente através da fusão de seu Espírito desde o princípio da criação do nosso ser existencial. Mas, de tal perfeita essa entrega que faz com que se desapareceu por completo em nós para nos dar a vida. Como se isso ainda não bastasse, tomou uma atitude ainda mais radical para demonstrar seu amor sem limites, se tornou um de nós, assumindo totalmente a nossa natureza humana, se acampou no meio de nós e se entregou na dor e experimentou a morte na lenha da cruz por nossa causa, entrou no seio da terra para nos tirar da boca do túmulo de nosso próprio egoísmo e egocentrismo.
O amor eternal consiste, portanto, na disposição espontânea de aceitação do outro como outro inigualável, de tão profundamente desigual que nos torna, por isso, ainda mais radicalmente semelhante, e por isso mesmo esse outro ou essa outra é importante para o meu “eu”; consiste também no espírito de tolerância e de mútuo respeito pelas diversidades, em todos os sentidos e níveis, diversidades essas que são tidas e cridas como riqueza incomparável, como fonte inesgotável e graça derradeira que Deus tem concedido para a nossa felicidade.
A consolação psicoemocional e moral/espiritual contida nas duas frases finais sobre a realidade do fim: “Vós não perdereis um só fio de cabelo da cabeça. É permanecendo firmas que ireis ganhar a vida” (vv. 18-19), não é uma visão triunfalista, mas é um convite claro à atenção e à reflexão no hoje de vida.
Como estamos vivendo a nossa fidelidade? Estamos tendo creatividade para superar a nossa dificuldade ou simplesmente deixamos como era e continuamos o nosso ritmo de sempre como se não tivesse nada? E a nossa esperança, está acompanhada do espírito de perseverança operante ou de sempre repetente? É necessário derrubar o medo e abandonar o tradicionalismo e narcisismo de vida adâmica para implantar o novo modo de ser, viver e agir como homem novo na sua maturidade em Cristo Jesus.
______&&&______ BH., 23/11-2011
Lukas Betekeneng
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