quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PERDÃO

“Pode-se perdoar, mas esquecer, isso, é impossível”
Honoré de Belzac (1799-1850)
P

erdoar é uma atitude nobre de um coração cheio de afeto profundo, de ternura e compaixão, de humildade, de amor misericordioso, sobretudo, de grandeza do amor ilimitado de Deus. Isso não significa absolutamente o esquecimento das marcas das dores que nos deixaram no nosso espírito, nos nossos sentimentos. Se fosse isso, seria o próprio ato de perdoar desqualificaria o significado profundo da sacramentalidade do perdão. Assim seria uma verdadeira hipocrisia, mais uma mentira inventada e espalhada pelo mundo afora envolvendo o dom reconciliador efetivo do Espírito Santo. O ato de perdoar não é a queima de arquivo, nem passar borracha por cima dos fatos e/ou jogar por baixo do tapete toda a sujeira do passado, mas é sua superação com uma nova visão, um espírito novo, renovado e transfigurado, uma nova mentalidade. Quem diz que já esqueceu as ofensas, significa que não esqueceu nenhuma delas e o perdão não faz nenhum sentido, pois tudo está guardado no inconsciente e voltará a se repetir de uma ou de outra maneira, no momento certo. Assim como diz o dramaturgo Francês Pierre Corneille (1606-1684) quem perdoa facilmente suscita mais ofensas com mais facilidade.
O perdoar é o desenvolvimento profundo e consciente da compreensão e tolerância, por saber que todos nós ainda estamos muito longe do agir correto, do reagir sobre-medida, distante do espírito de cuidado, ou seja, do agir prudente, humanizante e humanizador. Quem crê piamente que já sabe tudo de si, ou quase tudo, é um indivíduo ingênuo e infantil, pois se contenta com o olhar superficial em sua própria realidade, e nunca toma coragem de fazer um exame profundo e sincero de sua própria consciência. Uma pessoa madura, sadia, equilibrada e humilde sempre tem uma atitude diferente dos outros, de reconhecer-se e conhecer os outros como seres limitados, fracos, seres em contínua evolução rumo à perfeição plena. É aquele que não quer o mal dos outros; essa atitude do não-querer-o-mal é como uma razão a mais para responder a maldição com a bênção, a maledicência com a benevolência, a rejeição com a compreensão, a recusa com a acolhida, a ofensa com o perdão, a agressão com a reconciliação (cf. Lc 6,27-30). O verdadeiro perdão não consiste no esquecimento completo e absoluto das ofensas, mas na atitude generosa de superação dos fatos, no reconhecimento dos erros como ato antiético da fraternidade crística e na retomada da consciência para uma vida nova reconciliadora.
Não esquecer os erros do passado não significa, necessariamente, guardar o rancor, o ressentimento e a mágoa. É, pelo contrário, lembrar do pior que aconteceu com um novo espírito de superação para não se repetir a letalidade do terror no futuro, da qual provocará mais dores físicas e psicológicas, de si e do próximo. Reconhecer que erramos no tratamento para com próximo, que em outros momentos já temos considerado como alguém muito especial, alguém muito querido e/ou querida, aquele/aquela que está bem mais perto do nosso lado: o amigo do peito, a amizade íntima, o conhecido próximo, os visinhos e/ou os nossos próprios irmãos e irmãs, etc. Pedir e/ou dar perdão sem antes ter lembrado os erros cometidos e fazer um exame profundo da consciência é uma hipocrisia, uma palhaçada, uma mentira, ou como dizem os latinos, fazer só para o inglês ver ou, só da boca para fora. Seria o perdão artificial sem valor sacramental eficiente e eficaz e nem psicologicamente sadio e ética e moralmente humano.
Dar e/ou pedir perdão é uma atitude generosa de um coração cheio de amor humanizante e humanizador, é um ato remediador das almas, uma demonstração do homem maduro, sadio, equilibrado, humilde e virtuoso, psicoemocional e moral-espiritualmente, uma abertura rumo à paz e à justiça.
________&&&________ BH, 02-11/2011
Lukas Betekeneng

Nenhum comentário:

Postar um comentário