(2Mc 7,1.20-31; Lc 19,11-28)
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“O medo conduz à morte, a coragem às estrelas”
(Séneca)[1]
fidelidade creativa é o sinal de amor maduro, equilibrado, libertador e salvador. Quem ama cuida! Quem ama verdadeira e profundamente não tem medo de ser creativo e inventivo, não tem medo de fazer o novo acontecer. O medo aprisiona a coragem, corrói a confiança e mata as potencialidades, os talentos. Mas, ter coragem também não significa absolutamente a ausência do medo, muito pelo contrário, a superação dele, a resistência do medo. A coragem é a potência da fé, a energia do desejo de viver, crescer e amadurecer e que toma forma de disposição para inventar e reinventar encarando o desafio com confiança e esperança dos dias melhores.
A fé madura supera até o medo da dor e da morte (cf. 2Mc 7,1.20-31). Nesse texto de Macabeus, o autor relata a força da fé de uma mulher testemunhando a morte de seus filhos. A mulher foi obrigada para convencer seus filhos a abandonar sua fé, mas tudo foi em vão, pois todos preferem entregar a vida na boca da morte do que negar a sua própria experiência de Deus como aquele que já se demonstrou ao longo da história, a fidelidade e a segurança. A fé não é algo que se transfere, mas se adquire através da partilha, do testemunho. A crença pode ser abandonada, mas não com a fé.
Lucas desenvolve seu texto-parábola dos talentos enriquecendo os elementos paralelos de Mateus (cf. Mt 25,14-30) e adaptando-os ao seu ambiente cultural. Tanto Lucas quanto Mateus têm o mesmo objetivo: criticar a improdutividade da vida de fé, fruto de experiência negativa do Iahwe como um Senhor severo que mete o medo (v. 21), um Deus vingativo e condenatório. Contudo, se diferem no seu protagonista principal. Jesus de Mateus é associado a um rico comerciante que viajou ao país distante ao passo que o de Lucas, a um nobre, que parte para receber a investidura régia. Esse acréscimo do coroamento é a maneira própria de Lucas quer atender a expectativa popular do Reinado de Deus (v. 11)[2]. O vestígio desse relato se encontra também em Marcos (cf. Mc 13,34).
O medo é o extremo da ignorância, o sinal da infidelidade afetiva e fraterna no convívio relacional, a infertilidade da vida de fé, o preconceito contra vida; o arrojo é o começo do desrespeito, da covardia e a moderação é a identidade do amor maduro, equilibrado e responsável. A fé nos dá força para crescer e amadurecer, a coragem nos impulsiona para avanças e o amor nos capacita para amar criativamente sem medo.
Mas quem, afinal, representa esses três empregados? Assim, como Mateus também Lucas quer afirmar a mesma realidade: Jesus é mais aceito e esperado pelos pequenos e abandonados, injustiçados e oprimidos, excluídos e marginalizados, mas rejeitado pelos lideres religiosos e políticos do seu próprio povo. Os dois primeiros empregados representam todos aqueles que reconhecerem Jesus como messias e acolherem suas mensagens, enquanto que os líderes religiosos e políticos se fecham na fé ingênua e o desprezaram.
________&&&_______ BH., 16/11-2011
Lukas Betekeneng
[1] Lucius Annaeus Seneca é um filósofo no tempo imperial romano. Nasceu no ano 4 aC, em Córdoba , Espanha, e faleceu no ano 65 dC. Sua obra literária e filosófica, tida como modelo do pensador estóico durante o renascimento. Serviu também como inspiração para o desenvolvimento da dramaturgia europeia renascentista.
[2] Esse acréscimo também tem como pano de fundo os acontecimentos históricos que Lucas aproveitou para ilustrar seu relato: com o falecimento do Herodes Magno no ano 4 aC., um de seus filhos, o Arquelau, tinha ido a Roma para obter do Augusto, o imperador do então, a ratificação do testamento que lhe dava o governo da Judeia e o reconhecimento do título como rei.
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