quarta-feira, 9 de novembro de 2011

VIVER A VIDA CRISTÃ É PROCURAR TER ZELO PELA VERDADE DE DEUS

(Jo 2,13-22. Cf. os paralelos: Mc 11,11.15-17; Mt 21,12ss; Lc 19,45ss)
P

or que Jesus agiu com tanto vigor contra as pessoas no templo (v.15)? O que o templo representa para a vida dos judeus? O que Jesus queria dizer com essa expressão: “casa de negócios ou mercado (v. 16)? O que Jesus joanino queria dizer com essa frase: “Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei” (v.19)?
A questão do templo. A discussão principal foi, sem dúvida, sobre a polêmica do templo: quem é que tem o poder sobre o cuidado do templo, ou seja, quem é que manda nesse templo.  O templo é o lugar do culto e do sacrifício, é o espaço da presença de Iaweh, o símbolo da fidelidade de Deus. Dentro desse contexto que faz com que Jesus diz: “não façais da casa do meu Pai uma casa de negócios” (v. 16). E, também faz com que os seus adversários lhe perguntam: “Que sinal nos mostras para agir assim” (v.18). A atitude de Jesus joanino em relação ao templo foi um ato profético e que assemelha muito da ação denunciatória do profeta Jeremias (cf. Jr 7).
Nessa atitude nos revela, também, o pano de fundo (o contexto) do relato: o confronto direto entre dois grupos em relação com a polêmica do templo: a comunidade de Qumran (ou, Khirbet Qumran)[1] e a comunidade cristã joanina. Aqui também aparece um sinal que revela o papel peculiar de João na inserção dentro da Tradição. Para a comunidade de Qumran, o templo já é inábil porque profanado, por isso será substituído – provisoriamente – pois, no dia do Senhor Deus o templo será purificado e sua função será devolvida como era antes. Além disso, o grupo recusa também o culto oferecido nesse templo juntamente com seus sacerdotes. Para o grupo, o templo agora é a sua comunidade religiosa. A observância da Lei, a santidade na vida comunitária e a oração são, segundo o grupo, o verdadeiro culto e sacrifício mais perfeitos oferecidos a Deus. Devemos lembrar que os diversos textos concernentes ao templo revelam o trabalho catequético feitos pelas comunidades primitivas (cf. 2Cor 6,14 – 7,1; 1Cor 3,16-17; Ef 2,18-22; 1Tm 3,15; 1Pd 2,3-6; Hb 12,18-24). Isso significa que, o templo também tem lugar especial na vida cristã, todavia há superação da sua compreensão: os cristãos se reúnem em redor de Cristo-templo e cada cristão é o templo do espírito do Ressuscitado.
Enquanto que para a comunidade cristã joanina, o templo é substituído não porque profanado, mas porque o novo tempo messiânico já chegou com a chegada de Jesus de Nazaré e a Nova Aliança crística já se iniciou a sua realização, nele e com ele. Assim, ninguém adorará Deus nem nas montanhas e nem – no templo – em Jerusalém. Pois, já chegou a hora, e a hora é agora em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, visto que Deus é o espírito (4,21. 23). O vigor da atitude de Jesus revela, exatamente, a realização da esperança messiânica de purificação do templo, anunciada pelos profetas (cf. Ml 3,1-4).
A questão da verdade. Até hoje ninguém tem dado alguma explicação sobre o que é a verdade. Nem mesmo Jesus de Nazaré ofereceu uma mínima resposta quando foi indagado por Pilatos. Contudo, devemos lembrar que o problema da verdade não é tanto a delimitação, mas o real, aquilo que está no olho nu: o Espírito divino em carne Humana. Ou, como na palavra de Paulo: “Ele é a imagem visível do Deus invisível” – e nele, toda a humanidade e toda a criatura (cf. Cl 1,15). Não há verdade mais real e verdadeira que o ser humano-imagem-e-semelhança de Deus.
Sinais proféticos. A indignação de Jesus no pátio do templo foi um sinal profético. Quando Jesus diz: “Destruí este templo, e em três dias o levantarei”, é uma declaração direta sobre o novo jeito de ser e viver. É o momento de mudança de vida, nova experiência de Deus. A destruição do templo material[2], no seu lugar será reerguido o templo espiritual no corpo de Cristo da fé ressuscitada. Assim, o templo material é, a partir de agora, substituído pelo Cristo-templo – e nele os cristãos-templo (cf. 1Cor 6,19). A comunidade-Igreja é simples expressão do corpo-Templo. Cada cristão é a Igreja viva do Ressuscitado (ou, podemos dizer à luz dessa fé, toda a humanidade é o Templo do Espírito divino no mundo), tendo o Jesus de Nazaré, o Cristo-irmão misericordioso a sua pedra angular. Toda a humanidade é o Espírito do Criador em corpo criado operando no mundo, é a verdade visível do Deus invisível.
Estamos cuidando adequadamente o nosso corpo-templo do espírito de Deus? Quantos corpos-templo foram cruelmente demolidos e jogados no chão em nome da religião, do prestígio, do status, da riqueza, etc.? Não raramente fazemos o nosso corpo-Templo do espírito de Deus o lugar de “mercado” dos prazeres. Se Deus tomou coragem da fazer loucura, se encarnando no corpo humano, foi porque esse corpo tem algo de muito valioso que no céu não possui. Essa é a verdade da fé que os cristãos têm de zelar.
_______&&&_______ BH, 09-11/2011
Lukas Betekeneng


[1] “Ruína da mancha cinzenta” (Khirbet Qumran), é um sítio arqueológico a uma milha da margem noroeste do Mar Morto, a 12 quilômetros de Jericó e cerca de 22 quilômetros de Jerusalém. O lugar tornou-se célebre em 1947 com a descoberta de manuscritos que ficaram conhecidos como os manuscritos do Mar Morto. Foi neste lugar que viveram, no passado distante, em comunidades isolada os grupos de seitas religiosas como essênios e saduceus (do sacerdote Zadoc). Os manuscritos encontrados, no Mar Morto, segundo alguns estudiosos, são dos essênios e outros, dos saduceus. A discussão continua está aberta. O documento do Mar Morto foi classificado em quatro categorias: 1. Manuscritos bíblicos; 2. Apócrifos; 3. Comentários bíblicos; 4. Livros da comunidade.
[2] A menção do tempo de 46 anos da construção do templo foi um dado histórico, pois, o Herodes Magno havia iniciado as obras de ampliação e embelezamento em 19 aC., e só ficou pronto cerca dos anos 28 dC (cf. Flavio Josefo. Antiguidades judaicas, XV, II, I., e que depois foi destruído definitivamente no ano 70 dC.

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